Moscas e carne
Todas as moscas são bissexuais, ou melhor, pansexuais, ou de maneira mais exata: moscas simplesmente não fazem distinção do sexo da outra mosca com quem resolveram trepar. Cientistas com aquela pegada mais utilitarista para analisar a natureza, que aliás é uma pegada meio forçada e datada, dizem que isso se deve à sua curtíssima vida. Alguma espécies de mosca vivem apenas um dia, outras, não muito mais que isso. E já que elas não tem muito tempo pra selecionar, dizem tais cientistas, as mosquinhas saem acasalando com que aparece pela frente. Se fecundar, fecundou, próxima! Sexo é pra reprodução e elas resolveriam as chances no atacado.
Mas pra outros animais existem justificativas diferentes. Bonobos, que são famosos macaquinhos safadinhos, transam entre si sem distinção, dizem tais cientistas, por questões sociais, como a manutenção do grupo. Pinguins que formam casais do mesmo sexo, dizem tais cientistas, seriam uma estratégia de controle populacional e garantia de proteção para filhotes órfãos que adotam. Cachorros, leões, periquitos, camaleões, todos os bichos teriam lá seus motivos muito sérios e calculados. Se forem dois machos, deve ser demonstração de dominação. Se forem duas fêmeas, aguardem alguém pesquisar o assunto.
Eu sou da espécie que justifica o sexo e a falta dele. Tudo deve fazer sentido e se não faz, fazemos os sentidos e os enfiamos em tudo – no sexo, na vida e na morte. Se não é útil, não serve pra nada e se pra nada serve como pode existir? É uma lógica bem capenga, mas tapamos os buracos com nossas categorias. Nisso, somos incansáveis. Categorizamos os corpos e com isso, os indivíduos. Daí categorizamos padrão ou preferência ou histórico ou interesse de combinações possíveis de categorias. Pros corpos que fogem às categorias, criamos procedimentos para que se encaixem nas categorias. As categorias vem primeiro. Para subjetividades que fogem das categorias, criamos categorias guarda-chuva para facilitar, zilhões de categorias para especificar, novas palavras para possíveis categorias necessárias para criar uma lógica de categorização depois que categorias são revistas. Isso tudo com muita discussão, pesquisa, luta e morte, pois não validamos as coisa assim, de qualquer jeito. Talvez nos sobre tempo. Talvez nos faltem asas.
Semana estranha
Furei com a programação dessa semana que passou e me convenci de que iria me permitir isso porque ninguém vê esse blog mesmo mesmo. Quem eu queria enganar? Eu, claro. Eu sou uma pessoa metódica, sistemática, não gostei de fazer isso não. Nunca mais, nunca mais faço isso, eu prometo a vocês, que nem devem estar aí, e a mim, que cá estou. E hoje foi um dia triste, com notícia sobre gente querida que se foi de um jeito trágico. Essa semana, pra compensar, vai ter post todo dia e muita reflexão sobre vida, morte e as pessoas no meio. Mas isso vou guardar pra mim. Tá bom. Até mais então.
Uma bruxa
Um padrão e uma imprevisibilidade
Nessa semana que começa, mais uma vez teremos desenhos do caderno de rascunhos na terça, rabiscos na quinta, texto no sábado e depois, notícias no domingo. Nos outros dias, espero fazer uma listinha de lugares onde meu zine Kaijuzineo estará disponível. Vamos torcer pela simpatia dos estabelecimentos.
Prisões
Angela Davis nos fala da importância de nos permitirmos imaginar e propor novas soluções e com isso, novas possibilidades de mundo. Essa talvez seja a noção mais revolucionária ou talvez a única: a percepção de que para sequer aspirar a uma mudança profunda, é necessário antes de tudo romper com as amarras daquilo que conhecemos. O apego àquilo que já conhecemos nos impede de transformar e não coincidentemente é encorajado em nome de pretensos realismo e prudência. E como tantas coisas que interessam ao status quo, o medo do desconhecido, do novo, ganha a etiqueta de “inerente à natureza humana”, como se a excitação pelo novo ou o gosto pela aventura nunca houvessem motivado nenhum homo sapiens. Regimes autoritários são erguidos sobre idéias rígidas sobre o mundo, regimes inaceitáveis se perpetuam alimentados pela convicção de que outras possibilidades são absurdo.
Para vencer o inaceitável, é pŕeciso se permitir imaginar. Um mundo sem prisões, como Angela imaginou, um mundo sem a opressão do poder, um mundo onde corpos pertençam às pessoas que os vestem… Mas aí está outra armadilha, cuidado. A imaginação é sim incentivada pelos mecanismos que rodam essa máquina inaceitável, mas ela é reduzida ao papel de escape. Há um discurso que trata como poético e lindo e até saudavelmente necessário que as pessoas recorram à imaginação para escapar do que as cerca. Claro que isso em si não é um problema. O problema é quando tudo o que se permite é fingir enquanto a realidade permanece intacta. O inimigo pode ser disforme, mas é esperto. Porém, se sabemos para onde escapamos em nossos sonhos, sabemos onde queremos chegar. Começa daí. Bora caminhar.
Meu zine: Kaijuzineo
Páginas caóticas
Um terrário de lesmas e uma dupla
Esse foi baseado em um sonho que eu tive.
Zine e desenhos e zine de desenhos
Essa semana que passou foi cheia de velhas vontades e idéias repaginadas. Aqui no Blog, fiz algumas mudanças sutis porém relevantes, como retirar a seção de comentários. Depois de refletir, me pareceu um decisão óbvia, já que o Blog não é e nunca será nada que se pareça com uma rede social. Ele é uma ponte entre mim, ou partes de mim, e vocês que o acompanham (olha a pretensão de pessoa, colocando “vocês” no plural). Não faz sentido uma caixa pra bate-papo e discussões, sendo que quelquer pessoa pode discutir o conteúdo daqui com outra pessoa pra quem escolher mostrá-lo. A que a tal seção de comentários, com seus logins, serve então? Engajamento, algoritmo, canseiras do tipo que não me interessam em absoluto. Estou totalmente aberte a críticas, sugestões, “alôs” e etc, pra isso basta enviar uma mensagem naquela caixinha que aparece ali do lado quando se clica no ícone de email dentro do bolinha preta. Ela funciona direitinho, pode enviar que a gente conversa. Outra coisinha que fiz foi criar uma página separada para pessoas assinarem a newsletter-zine, que batizei de Apanhado. É possível assinar através da outra caixinha do lado, abaixo da caixinha de mensagem. Mas, pra compartilhar a página pras pessoas assinarem com mais facilidade e lerem uma breve explicação a respeito, o link é bsdep.art/apanhado , facinho.
Durante essa semana que segue nossa progamação será desenhos caprichadinhos do caderno de rascunhos na terça, rabiscos na quinta e texto no sábado. Entre um dia e outro, quem sabe. Domingo é dia de dar notícias, como estou fazendo agora. Por fim, estou saltitante para anunciar que essa semana acontecerá o lançamento oficial de um pequeno zine meu, e o lançamento será literal: assim que eu lançar uma cópia na direção da primeira pessoa que der bobeira e essa pessoa agarrar, meu zine estará no mundo. Emocionante!
O capitalismo está ruindo
O capitalismo está ruindo, dizem as pessoas que o estudam e dizem isso, ao que parece, há um bom tempo. Está ruindo então lentamente. Cada vez mais próximo de seu fim e há um desespero e ansiedade e por vezes excitação em saber que deverá haver algo depois. Mas lá está ele, ruindo e ruindo e o fim dessa ruição talvez esteja longe. O capitalismo rui como aquelas imagens em câmera lenta de prérios implodidos. Vemos a construção se perder em meio à nuvem densa e escura que sobe. Vemos o prédio vir abaixo num movimento lento que se confunde com a subida da nuvem e ambos se fundem até que uma massa em expansão se espreguice pelo ar. Sabemos que ela se move em direção à sua dissipação, mas a nuvem de destruição dança na sua frente exibindo suas infinitas partículas pelo que parece uma eternidade ou um momento suspenso no meio do pó que se revolve. Dentro de nossas mentes, dá pra ouvir o som.
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Frutinhas
Speicinvêida!
Kaijune 2022
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