“I should start working on myself again”
07/01/2024 || Estado da arte | Textos

Aqui vão algumas recomendações e comentários, que estão mais para pílulas de arte queer:

Li o livro de memórias Highschool, das irmãs Tegan e Sara que muita gente conhece pelo hit indie dos anos 00, Back in your head, e de cujo album de 2022, Crybaby, eu tirei o título dessa postagem. Mas essa informação sobre serem uma banda pode ser completamente ignorada para falarmos desse livro. Vamos colocar assim: são as memórias de adolescência de duas irmãs gêmeas no período em que estavam rompendo com uma subjetividade dependente, que parece ser o resultado comum da socialização que pessoas gêmeas vivenciam, e construindo sua identidade e individualidade através da descoberta da música e de suas homossexualidades. Os capítulos se revezam sendo escritos a cada vez por uma das duas, duas histórias completamente diferentes. Há o medo, excitação, solidão e ternura, muita ternura, a caminho do encontro consigo e com os seus, que falam diretamente com o coração de quem teve a vida tocada pela música e se viu fora da curva heterocisnormativa quando jovem, principalmente se isso aconteceu nos anos 90. É lindo. Esse livro é uma pérola queer.

Radical Romantics é o terceiro genial album solo de Fever Ray, ex-metade do The Knife, lançado ano passado. Esse é seu segundo album cujas letras, sonoridade e estética partem mais explicitamente de sua vivência enquanto pessoa que finalmente mergulhou de cabeça em sua identidade sexual e de gênero dissidentes já com certa maturidade. Dessa vez, a proposta é falar sobre as diversas facetas do amor, em suas versões mais contraditórias, violentas, sublimes, edificantes, tesudas. Vou destacar a parte visual que acompanha essa nova fase, para a qual deliciosamente me faltam palavras.

Mais recentemente, esbarrei por acaso com as pinturas de Gluck, que registraram como Hannah Gluckstein em seu nacimento em 1895 em Londres. Assim que ganhou independência financeira com uma pequena fortuna dos pais, cortou os cabelos, trocou os vestidos pelos ternos, assumiu o nome Gluck com a instrução “sem prefixos, sufixos ou aspas” e foi viver seus romances com mulheres de maneira desavergonhada para a época. Em especial, achei impactantes seus auto-retratos e tocantes suas pinturas que retratam Gluck com suas amantes em momentos como curtindo na grama sob o sol ou num passeio de canoa.