Essa foi minha primeira caneta de nanquim, presente de aniversário do meu Tio, quando eu era bem criancinha. Ela estava há pelo menos uns 28 anos sem funcionar.
Depois dessa conquista, me empolguei e embarquei numa jornada de desentupimento em série das canetas que estavam na caixa de materiais que herdei. É uma bela coleção de marcas e tamanhos de pena variados. Todas com diferentes de graus de limpeza, algumas estavam com restos de nanquim há anos abstruindo suas pecinhas. Agora, estão todas guardadas no estojo reservado para materiais de arte final, devidamente funcionais. Como? Abaixo, um breve tutorial.
O que eu uso nessas sessões de luta contra as pelotas de tinta ressecada:
– Amônia, desses potinhos que se compra em farmácia e supermercados para descolorir pelos. Use em locais ventilados e evite inalar, de preferência use máscara. Não é brincadeira!
– Água (faça isso perto de uma torneira)
– Palitinhos de dente
– Algodão
– Cotonetes
– Papel higiênico ou toalha de papel
– Potinho de vidro
– Pedaço de borracha de pneu de bicicleta (é opcional, porém bastante útil)
A amônia, dica que peguei dos blogs de entusiastas de caneta tinteiro, dissolve os resquícios solidificados de tinta mas nanquim é uma tinta solúvel em água então você pode tentar remover boa parte dos resíduos apenas lavando com água mesmo e reservar o uso da amônia para as partes mais difíceis. Ainda assim, quando for usar a amônia, procure dissolvê-la como eu explicarei mais adiante.
Primeiramente, é preciso entender o funcionamento da caneta técnica e aprender a desmontá-la sem danificá-la. Apesar das pequenas diferenças entre uma marca e outra, todas as canetas do tipo são constituídas basicamente de um cabo, uma tampa, um recipiente para a tinta, uma base para a pena e a pena, que é formada por uma estrutura externa com uma tampa embaixo que contém uma delicada agulha. É nessas últimas peças que a mágica – ou a maldição – acontece.
Comece deixando esse conjunto de peças de molho por mais ou menos 24 horas em uma mistura de 1 parte de amônia para 5 de água. Isso vai ajudar a amolecer e eliminar parte da tinta que estiver grudando as peças para que você desmonte a estrutura. Lave o conjunto na torneira e deixe tudo à mão para iniciar os trabalhos. Desmonte tudo tomando cuidado para separar as pecinhas de uma forma que elas não rolem para o chão e que você não as perca de vista, elas são bem pequenas e fáceis de perder! Caso a rosca esteja muito difícil de desenroscar, use um pedaço de borracha de pneu de bicicleta para segurar firme e ter o atrito suficiente. Aliás, guarde esse pedaço de borracha, isso vai facilitar a lidar com todas as roscas da vida que você encontrar daqui pra frente.
Umedeça o algodão em amônia e muito, muito, mas muito mesmo delicadamente limpe a agulha. Sempre que você usar amônia pura, enxagüe a peça logo em seguida. A recomendação é que se dilua a amônia para evitar danificar o material da caneta, mas às vezes é necessário usá-la pura nesses casos. Por via das dúvidas, enxagüe em seguida para evitar problemas. Pingue uma gota de amônia dentro da tampa e use o palitinho e cotonetes para desmanchar e retirar a tinta que estiver lá dentro. Faça o mesmo com o tubinho para a tinta, usando um pouco de algodão enrolado na ponta do palitinho ou um cotonete para evitar arranhar o plástico dessa peça, que costuma ser mais suave. A ponta do palitinho também serve para retirar tinta dos frisos das roscas. Repita esses procedimentos quantas vezes forem necessárias. Enxagüe, enxugue, monte novamente, encha o tubinho de tinta nova e termine de montar sua caneta.
Para ajudar a tinta nova a chegar na ponta, você pode deixá-la virada com a ponta pra baixo, tampada, durante alguns minutos. A velha balançadinha também vai ajudar nessa hora e se você ouvir o característico barulho da agulha batendo lá dentro, é sinal de que você conseguiu desobstruir o caminho. Agora tudo deve funcionar perfeitamente mas se isso não acontecer, repita a limpeza. Não desista da sua caneta!