As circunstâncias da vida se atropelaram nos últimos meses e eu acabei lidando com problemas de saúde e uma mudança de apartamento tudo ao mesmo tempo agora. Haja cortisol e falta de tempo! Pois agora Blog, newsletter-zine e o escambau estão de volta e tenho dito! Oras.
Hoje eu, minha esposa e um amigo pedimos um uber. Quando atravessámos a rua em direção ao carro que chegou, o motorista nos olhou com cara feia, mas demos nossos “boa tarde” corteses. Assim que tocamos nas maçanetas das portas, o motorista arrancou o carro e foi embora, sem dizer nada. Quase passou em cima do meu pé.
Em algum momento, meses atrás, me deparei com o video de “Wet Sümmer”, da talentosíssima Mörmaid. A música por si só é uma delícia, mas além disso descobri que esse video, sei lá por que e como, faz cosquinhas sinestésicas no meu cérebro. Fiz um desenho de um sofá para uma futura arte pro nosso coletivo inspirado em todo derretimento surreal do video, que acabou não sendo usada. Mas agora, com a proposta de fazermos uma edição da festa mais voltada para o som dos meus amados sintetizadores, as imagens do “Wet Sümmer” pipocaram mais uma vez na minha mente. Com a música no repeat, fiz um outro desenho inspirado no video e no som, que gostei mais, e que virou a arte pra próxima festa, a ser postada em breve.
DJ é alguém que faz um set list para pessoas dançarem em uma festa. Para DJs que levam a sério, esse set list é resultado de uma pesquisa intensa. Para DJs que levam a sério e tem verdadeira paixão por música, essa pesquisa é a dedicação de uma vida. Para quem leva a sério e faz isso com paixão há mais de 20 anos, como a nossa DJ Cris Foxcat, esse trabalho se traduz em algo que podemos vivenciar como um verdadeiro mimo. DJs não são pessoas apertadoras de play contratadas, o que oferecem é a música colhida e entregue como um presente carinhoso, uma experiência humana de comunhão. É uma tristeza que espaços que se dizem “alternativos” tratem essa figura com o descaso e a frieza com que se trata um algoritmo de playlist. Caberia aqui algumas reflexões sobre a precarização de éticas de trabalho, sobre a naturalização de um embrutecimento de algumas relações. Culpar a ignorância alheia esvazia a gravidade da questão. Não é preciso entender o que é indie, já ter discotecado, não é preciso sequer gostar do set da DJ para enxergar o trabalho da outra pessoa como digno de respeito. O que que aconteceu na noite de ontem no Mira com nossa querida Cris Foxcat é algo que nós, pessoas que se encontram e celebram a vida na noite, não podemos aceitar.
Eu prometi que se a Nymphia Wind ganhasse, eu gritaria a plenos pulmões pela janela igual a um hétero torcendo por futebol – e eu sempre cumpro minhas ameaças.
Um fator de ansiedade constante na minha vida desde a infância, é a noção de que o tempo passa e parece passar cada vez mais rápido. Não acredito que esse janeiro já está acabando! Cá estou eu mais uma vez fazendo cronogramas e listas. Vou aproveitar e brevemente indicar a leitura de Sobre o Tempo, livro genial em que o sociólogo Norbert Elias explica como a noção do tempo foi construída de diferentes maneiras ao longo da história. Curioso como coisas não concretas podem atropelar a gente com a solidez de um caminhão.
Aqui vão algumas recomendações e comentários, que estão mais para pílulas de arte queer:
Li o livro de memórias Highschool, das irmãs Tegan e Sara que muita gente conhece pelo hit indie dos anos 00, Back in your head, e de cujo album de 2022, Crybaby, eu tirei o título dessa postagem. Mas essa informação sobre serem uma banda pode ser completamente ignorada para falarmos desse livro. Vamos colocar assim: são as memórias de adolescência de duas irmãs gêmeas no período em que estavam rompendo com uma subjetividade dependente, que parece ser o resultado comum da socialização que pessoas gêmeas vivenciam, e construindo sua identidade e individualidade através da descoberta da música e de suas homossexualidades. Os capítulos se revezam sendo escritos a cada vez por uma das duas, duas histórias completamente diferentes. Há o medo, excitação, solidão e ternura, muita ternura, a caminho do encontro consigo e com os seus, que falam diretamente com o coração de quem teve a vida tocada pela música e se viu fora da curva heterocisnormativa quando jovem, principalmente se isso aconteceu nos anos 90. É lindo. Esse livro é uma pérola queer.
Radical Romantics é o terceiro genial album solo de Fever Ray, ex-metade do The Knife, lançado ano passado. Esse é seu segundo album cujas letras, sonoridade e estética partem mais explicitamente de sua vivência enquanto pessoa que finalmente mergulhou de cabeça em sua identidade sexual e de gênero dissidentes já com certa maturidade. Dessa vez, a proposta é falar sobre as diversas facetas do amor, em suas versões mais contraditórias, violentas, sublimes, edificantes, tesudas. Vou destacar a parte visual que acompanha essa nova fase, para a qual deliciosamente me faltam palavras.
Mais recentemente, esbarrei por acaso com as pinturas de Gluck, que registraram como Hannah Gluckstein em seu nacimento em 1895 em Londres. Assim que ganhou independência financeira com uma pequena fortuna dos pais, cortou os cabelos, trocou os vestidos pelos ternos, assumiu o nome Gluck com a instrução “sem prefixos, sufixos ou aspas” e foi viver seus romances com mulheres de maneira desavergonhada para a época. Em especial, achei impactantes seus auto-retratos e tocantes suas pinturas que retratam Gluck com suas amantes em momentos como curtindo na grama sob o sol ou num passeio de canoa.
Eu falo pouco sobre minha vida pessoal nesse blog, mas quando falo os assuntos são quase sempre questões queer e meus lutos. É interessante isso, mas não sei por que. E tenho entendido cada vez menos. Dos lutos, quero dizer. As minhas questões queer estão cada vez mais simples, ao contrário da minha relação com as mortes que me bicudaram nos últimos tempos. Em todos os casos, fica o clichê que é clichê porque é verdade: é preciso dar o tempo necessário, nada mais. E nesse caso dessas últimas semanas, fica esse lamento sem lugar.
Esse eu terminei enquanto rolava a feirinha ontem no Instituto Helena Greco. Estive lá vendendo alguns porterzinhos e encontrei pessoas conhecidas há tempos e na hora, ao som foda da minha DJ Cris Foxcat. As interações calorosas acalentaram o calorão inevitável. E eu vendi quase tudo, só sobrou uma impressão. Rá!
Sabe o Kaijune, aquele desafio de desenhar um kaiju (monstro gigante estilo Power Rangers) por dia no mês de junho? Esse, que é meu terceiro ano participando, está sendo meu preferido até então. Vou postar tudo aqui no final e em seguida darei continuidade ao projeto do ano passado e o Kaijune desse ano vai virar a nova edição do zine Kaijuzineo! Ai que saudade de fazer zines…
No dia 24/04, a câmara de Belo Horizonte aprovou o Projeto de Lei 54/2021, proibindo a linguagem neutra nas escolas. Esse piti conservador não vai vingar, visto que o Supremo Tribunal Federal já vetou projetinhos semelhantes e os proibiu definindo-os como inconstitucionais, além disso o MEC já se posicionou sobre a linguagem neutra descrevendo sua proibição nas escolas como um desrespeito não sá a professores, como a alunes, que tem o direito de debater, participar e compreender as transformações da língua e sua vivência prática.
Enquanto esses defensores de passados imaginários arrancam e mastigam suas cuecas em convulsões de nervo mal resolvido, a gente segue nosso lindo baile, tão vivo quanto a língua e muito mais vivo que a visão árida de mundo dessa gente que tem medo de nossas palavras. No dia seguinte, eu pude fazer essa arte na pilastra do Centro de Referência das Juventudes.
É fácil e tentador eleger o passado como um refúgio seguro ou modelo de tempos ideais. Já se comprovou que quanto mais distante, mais suscetível à falha é a memória. Pode ser assustadora essa noção, a de que a memória, nossa coleção do que nos constituiria, pode ser construída com projeções, reflexos de nossas inseguranças atuais ou eternas, decisões e edições inconscientes convenientes. Por isso, para extrair do passado suas lições mais sinceras, é preciso um trabalho para compreendê-lo de maneira dedicada e desinteressada na medida delicadamente exata. A única certeza é que ele é falho como nós.
Em novembro do ano passado, comecei um novo caderno de rascunhos, dessa vez com folhas cinzas pra experimentar outra relação com os valores, claro/escuro, essas coisas. Já postei aqui o que fiz nele durante esses primeiros meses de 2023. Invertendo a ordem, aqui está uma seleção do restinho de 2022.
Se você também costuma dizer e se queixar de que a sigla do movimento pelos direitos da diversidade sexual e de gênero está cada vez mais longa e os conceitos e identidades por trás dela, cada vez mais complicados, saiba que se tudo der certo só vai piorar pra quem não quer entender o básico. E o básico é: o ser humano é complexo. Enquanto tentarmos organizar a sociedade com caixinhas para as vivências e regras para as caixinhas, nunca será o suficiente. Mas não fomos nós, que tivemos que criar uma sigla para brigar para que nos deixem ser, que inventamos essa história de se enfiar em caixinhas. E já que vocês aí resolveram nos enfiar nelas, para dizer que a sua é a certa, então que lidem com caixas minimamente coerentes com nossa realidade. Ou melhor, mais coerentes na medida do possível. Vamos atualizando o trabalho de vocês. Acompanhem e se virem.
Essa semana fiz jus ao Blog dando a ele um novo visual, o que me pareceu necessário depois dessa jornada e de tantas mudanças. Até de nome mudei, oras! Como isso aqui é visivelmente um blog e que se chama nada mais que Blog e como meu nome aparece abaixo de todos os títulos de postagem, me permiti brincar com o cabeçalho que não está lá para oferecer nenhuma grande informação e, apesar de dar pra ler com algum esforço, é muito mais interessante equanto elemento gráfico. Além disso, essa semana postei dois desenhos que já tinham alguns meses de idade, mas estavam pacientemente esperando para aparecer aqui. O plano para os próximos dias é postar o restante da seleção desse caderno, que já até acabou. O caderno seguinte, o atual, tem sido uma experiência totalmente nova mas vamos deixar isso pra depois.
Por favor, fiquem com raiva, com vontade de tacar fogo, de virar a mão na cara. É pra travar o maxilar e as mão apertadas em punho. Aí poderemos jogar essa energia na direção que decidirmos, podemos marcar um encontro pra pensar sobre isso, que tal? Raiva é uma energia, como diria aquele punk duvidoso e a minha terapeuta. Não uma energia do tipo mística, mas uma energia do tipo disposição, do tipo trabalho, como descreve a raíz etimológica grega dessa palavra. E não se preocupe, essa raiva já está aí, como você no fundo sabe.
Esse desânimo depressivo é a raiva que você engoliu sugando você por dentro. Não dá pra digerir e expelir raiva, não dá. Ela vai pra fora através de outras funções vitais, mas a parte boa é que você pode usar sua racionalidade pra pensar em estratégias construtivas, você não está à mercê de suas tripas da barriga nem de seus impulsos destrutivos. Use o incômodo da necessidade de jogar essa raiva no mundo como um incentivo para ultrapassar esse medo paralizador. Pare de repetir pra você que o medo é uma função primitiva de segurança, funções primitivas podem ser muito enganosas agora que não estamos mais nas cavernas. Elas podem gerar ansiedade, por exemplo, e nesse caso podem até nos levar a voltar para as cavernas. Quando o medo bater, lembre-se de que nós nunca conquistamos nada recuando. Vai com medo mesmo, mas com a convicção de que é importante e com a segurança de que estar do lado certo da história pode ser algo cotidiano, mas não é qualquer coisa. Você sabe do que estou falando.
A essa altura da minha vida eu só quero que tudo se exploda. Quero ver todas as regrinhas vazias inventadas que organizam nossos processos, todos os processos inventados que compoem nossa sociedade, toda essa sociedade mal erguida que molda tudo que somos, tudo o que pudemos ser até agora, tudo se estilhaçando pelos ares. Que os ares também sejam atirados pela destruição, como acontece com o ar em uma explosão. Que não sobre nada além de micro grãos inúteis e indicerníveis voando em todas as direções, desmanchando qualquer memória do que um dia já formaram, como é um beira-mar por onde se caminha sobre milênios reduzidos a areia fofa. Que os micro grãos infinitos sem memória invadam um nada infinito e seu movimento sem alvo forme constelações que se parecem com coisas que ainda não ganharam nome.
Essa semana, perdi minha avó. Esse é um luto pesado que ainda não sei como elaborar. Não quero parar o que eu já havia começado a produzir nesse mês porque seguir em frente apesar de tudo, como a minha avó sempre fez, pode me fazer muito bem. Mas é preciso fazer isso respeitando o ritmo da tristeza, ou ela vira coisas piores. Portanto, mais uma vez, vamos com calma e haja terapia. Não consigo escrever mais sobre isso agora. Quem sabe depois.
O capitalismo depende da confusão da infelicidade para funcionar. Não se trata da infelicidade em si, mas do descontentamento sem alvo, carregado de incômodo. É preciso que os indivíduos não saibam o nome e a forma de seu vazio para que aceitem atirar dentro dele qualquer coisa que prometa preenchê-lo – objetos confundidos com identidade, crenças estapafúrdias confundidas com paz. Assim, a máquina gira ruidosa incutindo sonhos e extraindo frustração, enquanto corremos em círculos sem saber como desmontá-la.
Eu desafio a qualquer pessoa que realmente prestou atenção nos últimos quatro anos a olhar nos meus olhos e dizer que quem está no poder não faz diferença. Estou falando com quem há muito se cansou de tudo isso aí e com colegas anarquistas também. É necessário votar justamente porque a democracia é falha. Se ela pudesse de alguma forma cumprir o que se propõe, faria sentido darmos as costas porque não gostamos de ninguém que se candidata, mas enquanto aquela tal revolução não vem e não há nada do tipo no horizonte, governos vão se revezar, isso é um fato. Cruzar os braços para as consequências específicas de cada um é se abster de um alcance que nenhuma ação direta organizada tem. Em suma, do meu ponto anarquista de vista, é preciso lidar com a democracia como redução de danos. Eu sou contra o poder, mas ele ainda existe e afeta vidas. Nenhuma das frases prontas anti-voto dá conta da realidade. “Se votar mudasse alguma coisa, seria proibido”: bem, é óbvio que votar não muda o sistema nem sua podridão, mas muda o projeto político e o projeto de sociedade e essas duas coisas são bastante relevantes e sabe o que não votar muda? Nada. “Nenhum dos candidatos me representa”: pode até ser mesmo, mas principalmente agora que temos indígenas, travestis, minorias se candidatando pra tentar levar suas pautas e indicando qual candidato à presidência é mais propenso a dar algum espaço a elas, você jura que realmente analisou todas as propostas e acha que o melhor é deixar qualquer um fazer o trabalho? “Se hay governo, soy contra”: e tem que ser mesmo, mas vai haver governo por um bom tempo (mais uma vez, estou aguardando o convitinho para a grande revolução panacéia) e é melhor ser contra um governo onde brigamos por melhorias e contra falhas do que um governo onde brigamos pelo básico do básico e contra a escalada estratosférica do fascismo. Não é a mesma coisa. Se há alguma brecha para escolhermos nossos inimigos, temos que usá-la.
Eu não tenho heróis, muito menos líderes. Mas acho extremamente irresponsável ignorar que quem acupa o poder afeta, por exemplo, o número de pessoas que morrem, que sofrem, que comem, que conseguem um teto ou que vão para a rua por falta de condições. Nem que seja porque um vai evitar queimar o filme enquanto outro simplesmente vai mandar o povo enfiar as latas de leite condensado suspeitas no cu. É diferente. Reconhecer isso não nos impede de nos organizarmos enquanto sociedade civil, mas deixar o pau quebrar, deixar um governo mais merda destruir algumas vidas e aumentar em milhares o número de pessoas famintas pra depois se organizar pra distribuir marmitas pra algumas dezenas, e sabe-se lá como essas pessoas vão se reestruturar, isso é assim, meio hipócrita. Temos que ser melhores que isso, amigues anarquistas. Tenho várias críticas duras ao governo do PT, (e estou falando de decisões específicas, não do monstro disforme da corrupção) mas o Lula, comparado aos outros, nesse momento representa a melhor perspectiva para segurarmos de alguma forma os próximos 4 anos, quando espero ter opções melhores. Dentro de nossas possibilidades, vou votar nele e se ele ganhar, vou ficar de cima, como faria com qualquer um deles. Acho que você também deveria.
Aparentemente tem artista nessa cidade que resolveu voltar aos velhos tempos em que colava lambezinhos pelas ruas. Tal artista tem praticado esse tipo de vandalismo deixando por aí adesivos e papéis colados com grude caseiro onde se vê a imagem de um vírus, do coronavírus, com o rosto de Bolsonaro. Duas pestes indissociáveis. Tal artista espera dias melhores pelos próximos quatro anos, por isso é importante presentificar pra lembrar o inferno que foram os últimos quatro. Tal artista também está preparando novas intervenções urbanas agora que o gosto pela coisa voltou, mas uma coisa de cada vez.
Na vida real, rainhas, príncipes, princesas e reis colonizam países, exploram o próprio povo enquanto o marketing-tradição os cobrem da aura das celebridades e fazem outras coisas do mesmo calibre moral ou pior, como financiar o Apartheid. A rainha que se foi não era exceção. A monarquia é um regime podre, injusto, excludente, anti-democrático. Era só isso que eu queria dizer, só pra gente lembrar que não estamos na Disney.
A inveja ocupa um lugar curioso na nossa cultura. É um argumento coringa contra qualquer desagrado e acredita-se que tenha poderes de maldição contra seus alvos, eximindo-os da responsabilidade pelas consequências de suas escolhas. É também uma carta na manga chauvinista, na forma de mais uma teoria velha mal interpretada que encaixota a psiquê das pessoas dotadas de um genital dentro da pura inveja do outro genital. É tema constante das canções que reafirmam uma cultura de feminilidade competitiva e faz muito sentido numa cultura que atrela ideais de consumo e posse à promessa de felicidade e respeito.
Me surpreende e imediatamente depois me entedia pela previsibilidade que a inveja praticamente só não seja recorrente no discurso popular para tentar explicar a subjetividade das relações de opressão do lado do opressor. Não deve ser coincidência que mulheres tenham fama de descontroladas emotivas e péssimas motoristas quando é fato concretíssimo que são os homens que assassinam quando rejeitados e provocam a maioria esmagadora dos acidentes de trânsito. Numa sociedade como a nossa, embotada pelo conservadorismo requentado e temperado com a receita do neo-protestantismo-ultra-neo-liberal, não deve ser coincidência que estejam tentando requentar também um estigma de uma doença para atacar a vivência livre da sexualidade. Deve mesmo doer muito abafar os próprios questionamentos, racionalidade, desejos debaixo de uma caçamba de culpa e medo enquanto assiste a uma parcela do mundo fazendo o que gosta sem castigo. Dói mais que dar o cu, fica a dica.
Todas as moscas são bissexuais, ou melhor, pansexuais, ou de maneira mais exata: moscas simplesmente não fazem distinção do sexo da outra mosca com quem resolveram trepar. Cientistas com aquela pegada mais utilitarista para analisar a natureza, que aliás é uma pegada meio forçada e datada, dizem que isso se deve à sua curtíssima vida. Alguma espécies de mosca vivem apenas um dia, outras, não muito mais que isso. E já que elas não tem muito tempo pra selecionar, dizem tais cientistas, as mosquinhas saem acasalando com que aparece pela frente. Se fecundar, fecundou, próxima! Sexo é pra reprodução e elas resolveriam as chances no atacado.
Mas pra outros animais existem justificativas diferentes. Bonobos, que são famosos macaquinhos safadinhos, transam entre si sem distinção, dizem tais cientistas, por questões sociais, como a manutenção do grupo. Pinguins que formam casais do mesmo sexo, dizem tais cientistas, seriam uma estratégia de controle populacional e garantia de proteção para filhotes órfãos que adotam. Cachorros, leões, periquitos, camaleões, todos os bichos teriam lá seus motivos muito sérios e calculados. Se forem dois machos, deve ser demonstração de dominação. Se forem duas fêmeas, aguardem alguém pesquisar o assunto.
Eu sou da espécie que justifica o sexo e a falta dele. Tudo deve fazer sentido e se não faz, fazemos os sentidos e os enfiamos em tudo – no sexo, na vida e na morte. Se não é útil, não serve pra nada e se pra nada serve como pode existir? É uma lógica bem capenga, mas tapamos os buracos com nossas categorias. Nisso, somos incansáveis. Categorizamos os corpos e com isso, os indivíduos. Daí categorizamos padrão ou preferência ou histórico ou interesse de combinações possíveis de categorias. Pros corpos que fogem às categorias, criamos procedimentos para que se encaixem nas categorias. As categorias vem primeiro. Para subjetividades que fogem das categorias, criamos categorias guarda-chuva para facilitar, zilhões de categorias para especificar, novas palavras para possíveis categorias necessárias para criar uma lógica de categorização depois que categorias são revistas. Isso tudo com muita discussão, pesquisa, luta e morte, pois não validamos as coisa assim, de qualquer jeito. Talvez nos sobre tempo. Talvez nos faltem asas.
Furei com a programação dessa semana que passou e me convenci de que iria me permitir isso porque ninguém vê esse blog mesmo mesmo. Quem eu queria enganar? Eu, claro. Eu sou uma pessoa metódica, sistemática, não gostei de fazer isso não. Nunca mais, nunca mais faço isso, eu prometo a vocês, que nem devem estar aí, e a mim, que cá estou. E hoje foi um dia triste, com notícia sobre gente querida que se foi de um jeito trágico. Essa semana, pra compensar, vai ter post todo dia e muita reflexão sobre vida, morte e as pessoas no meio. Mas isso vou guardar pra mim. Tá bom. Até mais então.
Nessa semana que começa, mais uma vez teremos desenhos do caderno de rascunhos na terça, rabiscos na quinta, texto no sábado e depois, notícias no domingo. Nos outros dias, espero fazer uma listinha de lugares onde meu zine Kaijuzineo estará disponível. Vamos torcer pela simpatia dos estabelecimentos.
Angela Davis nos fala da importância de nos permitirmos imaginar e propor novas soluções e com isso, novas possibilidades de mundo. Essa talvez seja a noção mais revolucionária ou talvez a única: a percepção de que para sequer aspirar a uma mudança profunda, é necessário antes de tudo romper com as amarras daquilo que conhecemos. O apego àquilo que já conhecemos nos impede de transformar e não coincidentemente é encorajado em nome de pretensos realismo e prudência. E como tantas coisas que interessam ao status quo, o medo do desconhecido, do novo, ganha a etiqueta de “inerente à natureza humana”, como se a excitação pelo novo ou o gosto pela aventura nunca houvessem motivado nenhum homo sapiens. Regimes autoritários são erguidos sobre idéias rígidas sobre o mundo, regimes inaceitáveis se perpetuam alimentados pela convicção de que outras possibilidades são absurdo.
Para vencer o inaceitável, é pŕeciso se permitir imaginar. Um mundo sem prisões, como Angela imaginou, um mundo sem a opressão do poder, um mundo onde corpos pertençam às pessoas que os vestem… Mas aí está outra armadilha, cuidado. A imaginação é sim incentivada pelos mecanismos que rodam essa máquina inaceitável, mas ela é reduzida ao papel de escape. Há um discurso que trata como poético e lindo e até saudavelmente necessário que as pessoas recorram à imaginação para escapar do que as cerca. Claro que isso em si não é um problema. O problema é quando tudo o que se permite é fingir enquanto a realidade permanece intacta. O inimigo pode ser disforme, mas é esperto. Porém, se sabemos para onde escapamos em nossos sonhos, sabemos onde queremos chegar. Começa daí. Bora caminhar.
Essa semana que passou foi cheia de velhas vontades e idéias repaginadas. Aqui no Blog, fiz algumas mudanças sutis porém relevantes, como retirar a seção de comentários. Depois de refletir, me pareceu um decisão óbvia, já que o Blog não é e nunca será nada que se pareça com uma rede social. Ele é uma ponte entre mim, ou partes de mim, e vocês que o acompanham (olha a pretensão de pessoa, colocando “vocês” no plural). Não faz sentido uma caixa pra bate-papo e discussões, sendo que quelquer pessoa pode discutir o conteúdo daqui com outra pessoa pra quem escolher mostrá-lo. A que a tal seção de comentários, com seus logins, serve então? Engajamento, algoritmo, canseiras do tipo que não me interessam em absoluto. Estou totalmente aberte a críticas, sugestões, “alôs” e etc, pra isso basta enviar uma mensagem naquela caixinha que aparece ali do lado quando se clica no ícone de email dentro do bolinha preta. Ela funciona direitinho, pode enviar que a gente conversa. Outra coisinha que fiz foi criar uma página separada para pessoas assinarem a newsletter-zine, que batizei de Apanhado. É possível assinar através da outra caixinha do lado, abaixo da caixinha de mensagem. Mas, pra compartilhar a página pras pessoas assinarem com mais facilidade e lerem uma breve explicação a respeito, o link é bsdep.art/apanhado , facinho.
Durante essa semana que segue nossa progamação será desenhos caprichadinhos do caderno de rascunhos na terça, rabiscos na quinta e texto no sábado. Entre um dia e outro, quem sabe. Domingo é dia de dar notícias, como estou fazendo agora. Por fim, estou saltitante para anunciar que essa semana acontecerá o lançamento oficial de um pequeno zine meu, e o lançamento será literal: assim que eu lançar uma cópia na direção da primeira pessoa que der bobeira e essa pessoa agarrar, meu zine estará no mundo. Emocionante!
O capitalismo está ruindo, dizem as pessoas que o estudam e dizem isso, ao que parece, há um bom tempo. Está ruindo então lentamente. Cada vez mais próximo de seu fim e há um desespero e ansiedade e por vezes excitação em saber que deverá haver algo depois. Mas lá está ele, ruindo e ruindo e o fim dessa ruição talvez esteja longe. O capitalismo rui como aquelas imagens em câmera lenta de prérios implodidos. Vemos a construção se perder em meio à nuvem densa e escura que sobe. Vemos o prédio vir abaixo num movimento lento que se confunde com a subida da nuvem e ambos se fundem até que uma massa em expansão se espreguice pelo ar. Sabemos que ela se move em direção à sua dissipação, mas a nuvem de destruição dança na sua frente exibindo suas infinitas partículas pelo que parece uma eternidade ou um momento suspenso no meio do pó que se revolve. Dentro de nossas mentes, dá pra ouvir o som.
Por ser apropriado e necessário, desde alguns dias atrás em diante escolhi novas palavras para representar o ser que acabei me tornando. Meu novo nome “artístico” deve ser escrito respeitando as regras da nomeclatura científica: dois nomes em latim, o primeiro, o gênero, começa com letra maiúscula e o segundo, a espécie, com minúscula, sendo os dois sempre destacados em itálico. E assim nomeei essa nova espécie descoberta, que sou eu:
Essa semana será dedicada ao meu caderno de coisas bem feitas, pra onde transporto as idéias depois de estruturadas. Não necessariamente artes finais, mas definitivamente testes mais apresentáveis a quem eu tiver interesse de convencer de que sei fazer algo. E ainda assim, rascunhos. É o tipo de uso de caderno que fiz por muito tempo quase exclusivamente antes de redescobrir o valor de fazer qualquer coisa. Mas falarei sobre esse processo depois. Por enquanto, segue mais uma seleção de 5 desenhos, dessa vez do caderninho bonito.
Essa semana o caderninho da vez vai ser o caderno de rabiscos, onde faço o que der na telha sem o menor compromisso. Acabei redescobrindo o prazer dessa abordagem meio que por acaso, nessa não tão distante fase em que o estado da minha saúde mental estava me atrapalhando a focar em um desenho mais finalizado, com cenário e elementos coesos. Passou, mas o gosto por desenhar sem proposta nem preocupação, depois de alguns anos me forçando a fazer tudo o que eu desenhava ser minimamente exibível, ficou. Há vário artistas que defendem a importância de ser ter um caderno separado pra isso, e eu já percebo o impacto na minha criação e até mesmo na técnica. A experiência é tão divertida que acaba refletindoo no resultado. A ilustradora Fran Meneses, por exemplo, publicou há pouco tempo seu “ugly sketchbook” (caderno de desenhos feio). Já eu, separei 5 páginas para serem postadas ao longo dessa semana, mas essa categoria de caderno vai entrar no futuro na programação permanente do Blog.
Eu tenho uma máquina de costurar antiga, que foi da minha bizavó. A limitação de variedade de pontos e acabamentos do modelo, pra mim, que façomuitomais gambiarras que propriamente costura, é totalmente compensado pelo fato de que a máquina de metal pesado tem força suficiente para perfurar materiais grossos que as máquinas mais novas não aguentam. E pensando nisso, um dia tive a idéia de tentar costurar uma resma de papel pra ver se virava um caderno. Sucesso! Ah, que delícia ser agoracapaz de fazer meu próprios caderninhos!
Nos próximos dias vou postar uma pequena seleção de desenhos que fiz no primeiro caderno nascido da máquina de costura de minha bizavó, muito mal cortado na gilhotina pra caber num dos meus estojos, mas com o miolo de papel reciclado cuja tonalidade foi um deleite.
Ao longo dessa semana postarei uma seleção de desenhos que fiz nesse caderninho lindo que foi presente da minha amiga Ju, há um tempinho atrás. Apesar demuito fofo, eleficou esperando seu momento até recentemente. Demorei um pouco para meabituar aoseu papel 100% algodão do tipo “coldpress”, que é realmente maravilhoso porém bem diferente dos bristols e afins que costumo usar. A experiência valeu muito a pena. Para aproveitar o potencial da textura, aventurei um pouco mais com lápis e esfuminho e tirei alguma conclusões sobre algumas mudanças no meu estilo. Fiz questão de deixar o aspecto manchado na tinta preta nas imagens escaneadas como uma lembrança da experiência táctil, esse charme de infinitas especificidades que só o suporte físico pode proporcionar. Nada contra a mídia digital, tudo a favor do dedinho sujo de tinta porque eu gosto e esse é um excelente motivo.
O Blog pode até ficar paradinho mas está vivo, assim como eu. Desde o ano passado falei aqui sobre o malabarismo que estive fazendo para segurar minha saúde mental, esse ano houve um momento em que o balão pesado simplesmente despencou. Continuei a fazer o que aprendi no começo desse processo e respeitei o ritmo que minha mente e corpo me pediam, por isso o Blog andou meio desestruturado.
Mas embora nenhum post novo tenha aparecido por aqui nesse último mês, fiz uma mudança discreta ali na barra lateral e acresentei um campo para quem quiser assinar uma newsletter-zine que será mensal e cujo mailing será sempre totalmente administrado diretamente por mim, sem terceiros de olho nos seus dados nem nada do tipo. Sim! Novos planos e projetos foram gestados nesse período enquanto eu me reerguia. Sinto que já chegou a hora.
Além disso, já a partir de agora voltamos a ter uma programação – de verdade dessa vez! É sério. Eu disse que eu avisaria quando eu saísse do casulo, então voilá: está anunciado.
O Megalobulimus é um caramujo gigante sul-americano que sofre com a ignorância de humanos que o confundem com o caramujo gigante africano, que é considerado praga. Isso faz com que tais humanos se sintam no direito de eliminá-los assim que o avistam, de tal forma que o Megalobulimus, ou aruá-do-mato, e seu característico bigodinho charmoso estão sob risco de extinção.
Continuando o Insectober 2021 em ritmo próprio, conforme anunciado. Nessa segunda leva, dou início à celebração do trabalho de entomologistas que, nos últimos anos, tem cruzado ciência e cultura pop nomeado suas novas descobertas em homenagem a personalidades e personagens. Temos aqui:4. Opaluma rupaul (mosca, homenagem a Rupaul)5. Scaptia beyonceae (mosca, homenagem à Beyoncè)6. Daptolestes leei (mosca, homenagem a Stan Lee)7. Kaikaia gaga (homenagem à Lady Gaga)8. Aleiodes gaga (Lady Gaga de novo, dessa vez uma vespa)9. Strigiphilus garylarsoni (homenagem Gary Larson, um de meus cartunistas preferidos)10. Nelloptodes gretae (um dos menores insetos do mundo e em risco de extinção, esse besourinho foi nomeado, segundo sua estudiosa, em homenagem à Greta Thumberg para lembrar que ninguém é pequeno demais para fazer a diferença.)
Como podem observar, não postei os desenhos que anunciei que iria postar aos domingos, assim como tenho deixado cada vez mais de cumprir o que me proponho a fazer aqui. E não só aqui, isso tem crescido nos últimos meses. No mínimo, desde abril. Eu demorei a perceber direito o que estava acontecendo porque dessa vez a minha velha conhecida Distimia, essa forma de depressão que não te deixa de cama mas cobre a vida com uma meleca cinza, apareceu diferente. Existem padrões de pensamentos e sensações que aprendi a identificar depois de tantos anos, mas cheguei a um momento da minha vida em que resolvi tantas coisas que isso me trouxe uma nova forma de ficar mal. Fui no embalo quarentena adentro, focando em ficar bem nesse contexto absurdo, o que pra mim significava o tal “fazer minhas coisas”. Não estou falando dessa obsessão por produtividade com a qual o mundo nos soterra atualmente, mas é da minha personalidade que me dedicar aos meus milhares de interesses, de boa, é como eu funciono quando estou bem. Me vi correndo atrás das coisas me escapando e sem perceber fui dando cada vez mais de mim para coisas que normalmente não me exigiriam nada. De repente, qualquer coisa era muito pra lidar, daí reconheci a cara da minha velha conhecida, uma cara nova mas que ainda é dela. Voltei, enfim, para a medicação que já está fazendo efeito e resolvendo, sim, a parte química dessa batalha e eu achei que assim que os remédios batessem eu voltaria a fazer, de boa, minhas milhares de coisinhas todos os dias. Mas essa parte também aconteceu diferente do que eu conheço. Não deu. Pensei que não passaria mais do que algumas semanas assim, mas passei. Daí entendi, graças à terapia, que mesmo estando saudável de novo, preciso descansar depois de tanto tempo aumentando paulatinamente a dose de energia mental empregada para administrar a doença que avançava.
Concluindo: pode ser, portanto, que eu poste os desenhos aqui esse domingo e pode ser que não. Quero completar o desafio do Inktober-Alphonsober-Insectober assim como quero fazer várias outras coisas, mas vou voltando a isso no meu ritmo atual, que não sei qual é e preciso me permitir não saber. Deixa vir. Quando eu sair do casulo, eu aviso vocês, combinado?
Em outubro, esse Blog vai ter uma programação especial para atender melhor ao meu momento criativo, porque estou me dedicando a técnicas novas em um outro ritmo. Vou fazer minha versão do inktober-alphonsober, totamente dedicado a retrato de carinhas de insetos, que vou postar aqui aos domingos. Pode ser que outras coisas apareçam por aqui no resto da semana. Em novembro, a programação (que andou negligenciada nos últimos tempos) voltará ao normal.
E na primeira parte do Insectober 2021 temos:1.Periplaneta americana (nossa velha conhecida barata)2.Culex quinquefasciatus (pernilongo)3.Nezara viridula (barbeiro verde, percevejo ou “maria-fedida”)
Se, na era da informação, tantas pessoas são guiadas por concepções equivocadas e nocivas da realidade, é porque existe uma crise profunda de confiança nos processos de construção do conhecimento, e essa desonfiança e fruto da falta de sua compreensão. Fazer a população desaprender sobre o conhecimento é um projeto minucioso porém rápido, que começou mais concretamente no Japão, quando decidiu-se que que disciplinas escolares da área de humanas não interessam ao mercado, logo seriam inúteis. A mão do neoliberalismo globalizado espalhou essa decisão e, de país em país cortando a história, a filosofia, a sociologia do convívio desde a infância, em pouco tempo surgiu uma geração terraplanista aterrorizada pelo fantasma do comunismo.
E se humor é um mecanismo de reforço de valores e ideias em uma sociedade, eu sugiro a quem se dedica às humanidades que exclua de seu repertório de piadas/memes o sintomático “não sei fazer isso, sou de humanas”. Valorizemos nosso campo. Se for pra fazer piada, vamos nos servir da sagacidade que nossa compreensão do mundo nos proporciona para apontar seus absurdos.
Van Gogh se matou aos 37 anos, acho um péssimo ponto para parar. Ripley só conseguiu retornar à Terra mais de 250 anos e 8 clonagens híbridas depois de enfrentar seu primeiro xenomorfo na Nostromo. 37 anos é uma idade em que a pessoa já aprendeu uma coisa ou outra sobre tempo perdido em sono criogênico, sobre os monstros que a perseguem, sobre se virar na imprevisibilidade da jornada e acabou de aprender que dá pra brincar com os amarelos e azuis.
Fugindo um pouco da programação que postei outro dia mesmo – anarquia, bebê! – quero anunciar nem que seja com dois dias de antecedência que esse ano vou participar do desafio Kaijune.
Explicando o desafio: o nome é um trocadilho (como sempre) com a palavra June, que é junho em inglês, e kaiju, ou 怪獣, que é uma palavra japonesa que pode ser traduzida como “monstro”, “besta incomum”… É como é chamada aquela categoria de monstros gigantes que conhecemos de programas como Power Rangers. Godzilla talvez seja o kaiju mais famoso. Enfim, a proposta é postar um desenho de um kaiju por dia durante o mês de junho.
Há anos fico na vontade mas nunca me organizei o suficiente. Esse ano não só rolou a tal preparação técnico-psicológica pra embarcar nessas coisas como calhou de ser uma ótima oportunidade para desenvolver algumas habilidades que me serão úteis em um projetinho pessoal que pretendo realizar esse ano. Mas sobre isso: aguardem.
Não existe uma lista de temas oficial e resolvi pela primeira vez participar de um desafio desses sem uma. Vamos ver o que sai.
As Borboletas Monarca são uma espécie que todo mundo tem a impressão de já ter visto, porque por aqui no Brasil temos várias espécies parecidas com listras laranjas e pretas e os pontinhos brancos. Mas apesar de parecerem comuns, a subestécie Danaus plexippus plexippus dessas borboletas está em um galopante processo de extinção, mais uma consequência lamentável das mudanças climáticas, um desastre descomunal para o planeta pois essas danadas literalmente atravessam gerações num ciclo migratório impressionante que poliniza quase 5.000.000 quilômetros entre México e Canadá. É realmente incrível. Recentemente, cientistas tentaram aumentar sua população com a criação em cativeiro. Quando finalmente soltaram as milhares de borboletas, descobriram que Borboletas Monarca criadas em cativeiro não sabem migrar.
Um estudo de 2019 descobriu que a clausura provoca alterações identificáveis no código genético dessas borboletas, apagando sua habilidade de saber pra onde ir. Mas em algum universo paralelo, alguém me pede para fazer uma interpretação poética sem muito compromisso com as realidades dos fatos para essa descoberta – nesse universo paralelo as pessoas não confundem idéias agradáveis com as realidades dos fatos. E eu digo que as borboletas mais novas na jornada aprendem com as mais velhas que aprenderam com as mais velhas que se foram no caminho. As borboletas portanto, concluo, migram não por instinto e sim por senso de responsabilidade. Fofas.
Vamos recapitular: o Brasil foi último país a abolir a escravidão, e só depois que a pressão ficou inviável. Não só a nossa política se fundou em uma lógica escravagista, como a nossa sociedade se organizou em torno de relações escravagistas e as nossas leis foram paulatinamente repensadas para a manutenção dessas relações à medida que o sistema em si se tornava uma vergonha. Nosso sistema jurídico, penal, nossa polícia, são frutos históricos de algo que só deixou de ser explícito 39 anos antes do meu avô, ainda vivo, nascer. Deixando de ser explícito, se tornou mais um valor implícito cultivado nas brechas do jeitinho.
Quando um vice-presidente brasileiro diz que o irmão de uma garotinha de 9 anos, um senhor desarmado em uma cadeira de plástico e mais 20 e tantas pessoas que foram assassinadas por simplesmente estarem lá são “tudo bandido”, ele quer dizer “tudo preto”. Eis o progresso malicioso de uma ordem velha e cruel.
Depois dessa conquista, me empolguei e embarquei numa jornada de desentupimento em série das canetas que estavam na caixa de materiais que herdei. É uma bela coleção de marcas e tamanhos de pena variados. Todas com diferentes de graus de limpeza, algumas estavam com restos de nanquim há anos abstruindo suas pecinhas. Agora, estão todas guardadas no estojo reservado para materiais de arte final, devidamente funcionais. Como? Abaixo, um breve tutorial.
O que eu uso nessas sessões de luta contra as pelotas de tinta ressecada: – Amônia, desses potinhos que se compra em farmácia e supermercados para descolorir pelos. Use em locais ventilados e evite inalar, de preferência use máscara. Não é brincadeira! – Água (faça isso perto de uma torneira) – Palitinhos de dente – Algodão – Cotonetes – Papel higiênico ou toalha de papel – Potinho de vidro – Pedaço de borracha de pneu de bicicleta (é opcional, porém bastante útil)
A amônia, dica que peguei dos blogs de entusiastas de caneta tinteiro, dissolve os resquícios solidificados de tinta mas nanquim é uma tinta solúvel em água então você pode tentar remover boa parte dos resíduos apenas lavando com água mesmo e reservar o uso da amônia para as partes mais difíceis. Ainda assim, quando for usar a amônia, procure dissolvê-la como eu explicarei mais adiante.
Primeiramente, é preciso entender o funcionamento da caneta técnica e aprender a desmontá-la sem danificá-la. Apesar das pequenas diferenças entre uma marca e outra, todas as canetas do tipo são constituídas basicamente de um cabo, uma tampa, um recipiente para a tinta, uma base para a pena e a pena, que é formada por uma estrutura externa com uma tampa embaixo que contém uma delicada agulha. É nessas últimas peças que a mágica – ou a maldição – acontece.
Comece deixando esse conjunto de peças de molho por mais ou menos 24 horas em uma mistura de 1 parte de amônia para 5 de água. Isso vai ajudar a amolecer e eliminar parte da tinta que estiver grudando as peças para que você desmonte a estrutura. Lave o conjunto na torneira e deixe tudo à mão para iniciar os trabalhos. Desmonte tudo tomando cuidado para separar as pecinhas de uma forma que elas não rolem para o chão e que você não as perca de vista, elas são bem pequenas e fáceis de perder! Caso a rosca esteja muito difícil de desenroscar, use um pedaço de borracha de pneu de bicicleta para segurar firme e ter o atrito suficiente. Aliás, guarde esse pedaço de borracha, isso vai facilitar a lidar com todas as roscas da vida que você encontrar daqui pra frente.
Umedeça o algodão em amônia e muito, muito, mas muito mesmo delicadamente limpe a agulha. Sempre que você usar amônia pura, enxagüe a peça logo em seguida. A recomendação é que se dilua a amônia para evitar danificar o material da caneta, mas às vezes é necessário usá-la pura nesses casos. Por via das dúvidas, enxagüe em seguida para evitar problemas. Pingue uma gota de amônia dentro da tampa e use o palitinho e cotonetes para desmanchar e retirar a tinta que estiver lá dentro. Faça o mesmo com o tubinho para a tinta, usando um pouco de algodão enrolado na ponta do palitinho ou um cotonete para evitar arranhar o plástico dessa peça, que costuma ser mais suave. A ponta do palitinho também serve para retirar tinta dos frisos das roscas. Repita esses procedimentos quantas vezes forem necessárias. Enxagüe, enxugue, monte novamente, encha o tubinho de tinta nova e termine de montar sua caneta.
Para ajudar a tinta nova a chegar na ponta, você pode deixá-la virada com a ponta pra baixo, tampada, durante alguns minutos. A velha balançadinha também vai ajudar nessa hora e se você ouvir o característico barulho da agulha batendo lá dentro, é sinal de que você conseguiu desobstruir o caminho. Agora tudo deve funcionar perfeitamente mas se isso não acontecer, repita a limpeza. Não desista da sua caneta!
Há anos, eu guardava uma caixa de materiais de arte que foram de um tio meu. Finalmente usar esses materiais, esse ano depois de tantos outros, foi resultado de um processo muito pessoal e intenso de, com muita terapia, trabalhar um luto que ainda estava engasgado. Meu tio tinha uma invejável coleção de HQs que ele me mostrava com paixão em conversas que definiram meus desenhos até hoje. Ele ajudou a plantar no fundo da minha consciência a sementinha que mais tarde me fez entrar para o time dos comedores de planta, o que ele não chegou a ver acontecer. Enquanto ele estava vivo eu não tinha a maturidade para entender quão profundo, revolucionário e necessário era seu discurso de que a humanidade é sim constituída de uma maioria de pessoas boas, que querem o bem e que o fazem, que não podemos deixar o barulho dos atos ruins poluir nossa capacidade de enxergar isso. Ele carregava o estigma de figura exótica com invejável tranquilidade e seu sempre inabalável senso de humor. Uma vida relativamente breve vivida com uma indiscutível e raríssima intensidade.
As canetas e lápis herdados são uma das várias formas em que ele marcou o que eu faço sem saber.
(Enviei esse texto ao urbansketcher.org junto com os sketches postados no dia 22 e imediatamente recebi a resposta automática de que não estão recebendo posts novos nem novos correspondentes. Vou enviá-lo para o mundo através do Blog então).
Pelo bem da nossa saúde mental, eu e minha esposa tivemos a idéia de passar uma hora da parte da manhã sentades na área comum do nosso prédio. Nós somos pessoas de “lá fora”, sabe. Nossas mentes ainda não se acostumaram com a falta das caminhadas, das ruas, do barulho, das pessoas e das noites sem fim dançando com nossos amigos. O covid veio e nós passamos um ano tentando aprender como ficar sãs assim, quietes em casa. Ainda estamos tentando então talvez aquela área, apesar de ainda estar na parte de dentro do portão, possa ser uma dosa segura de “lá fora”. Aí eu coloco no bolso o kit de sketch atual, o mais minimalista que já tive e ainda não tive chance de usar em um encontro com minhes companheires sketchers do grupo local. Uma caneta tinteiro com tinta preta, um pincel de água, uma caneta branca de gel e meu caderninho minúsculo. Só isso.
Nós nos sentamos lá, minha esposa abre um livro, eu escolho uma parte de “lá fora” e começo a desenhar. Algumas coisas passam pela minha cabeça. Eu penso em como eu comecei a fazer urban skecth para melhorar os cenários das minhas ilustrações sci-fi, e agora nós estamos vivendouma distopia real. Eu penso na minha cidade, sua famosa vida noturna sem fim de bares e como é que eu pude realmente achar que as pessoas aqui iriam ficar em casa, que ingenuidade a minha. Eu penso naquela noite em 2018, quando nós nos encontramos com outras pessoas LGBTQIA como nós, amigues e estranhes, em um apartamento onde nunca estivemos antes e nós choramos todes juntes porque o obscurantismo havia ganhado as eleições, e agora as decisões negacionistas desse governo levou o Brasil a mais de 3000 mortes por dia, sem perspectiva de nenhuma solução. Eu vejo pessoas andando na calçada sem máscara e penso em nosses amigues que fizeram seu melhor para se cuidas e mesmo assim ficaram doentes e eu penso em nossos parentes que morreram. O medo e a decepção estranhamente se misturam a luz aconchegante e quentinha do sol da manhã enquanto eu capturo um pedaço do país perdido que habito. E então nós voltamos pra dentro, pra enfrentar mais um dia de paciência e esperança vacilante. Fiquem segures, se cuidem.
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(I sent this text to urbansketchers.org with sketches posted on 22th and imediately received the answer that they’re not “not reviewing USk blog guest posts or considering new correspondents at this time”. So I will send it to the world through the Blog).
Some light
For the sake of our mental heath, me and my wife had the idea of spending an hour in the morning sitting at a common area of our building. We are both “outside” people, you know. Our minds still didn’t get used to miss the walks, the streets, the noise, the people and the endless nights dancing with our friends. So covid came and we spent an year trying to learn how to stay sane like this, quiet at home. We are still trying, so maybe that area, though is still inside the buiding’s front door, can be a litttle safe dose of outside. So I put in my pocket the current sketch set, the most minimalist I ever had and I didn’t get the chance of use it in a encounter with my fellow sketcher from the local group. One fountain pen filled with black ink, one waterbrush, one white gel pen and my tiny sketchbook. That’s it.
We sit there, my wife opens a book, I choose a part of “out there” and start drawing. Some things come to my mind. I think about how I first get into urban sketch to improve the backgrounds of my sci-fi illustrations, and now we are living a real distopia. I think about my city, it’s famous non-stop night life of bars and how come I really thought people here would really stay home, how naive of me. I think about that night in 2018, when we met other LGBTQIA people like us, friends and strangers, on a appartment we never went before, and we cried all together cause the obscurantism won the presidential elections, and now this government’s negationists decisions drove Brazil to more than 3000 deaths per day, without perspective of any solutions. I see people walking the sidewalk without a mask and I think about our friends who made their best to take care but got sick, and I think about our relatives who died. The fear and the disapoitment oddly mix with the cozy warm morning sunlight as I capture a piece of the lost country I habit. And then we go back indoors, to face another day of patience and stumbling hope. Stay safe, take care.
Mesmo usando o mais caro, grosso e tunado dos papéis de aquarela, o enrugamento é um problema real (nem adianta culpar meu gosto pelo Bristol). Mas é possível deixar o papel reto adotando uma rotina de “desenrugamento de papel” à finalização de suas obras. Eu recomendo inclusive montar um cantinho já preparado para isso:
Tenha uma bucha, dessas de cozinha, separada para isso. Umedeça a bucha – apenas umedeça! Não encharque, não molhe… umedeça e se foro caso, esprema pra tirar o excesso – e passe bem suavemente a parte mais macia da bucha no verso do papel. Muito cuidado e atenção para não deixar excesso de água atravessar para o outro do papel nem escorrer para o outro lado pelas bordas, arruinando o seu trabalho. umedeça e passe suavemente, com muito carinho. É uma operação delicada.
Delicadamente repouse o papel em uma superfície reta com a pintura para baixo. Cubra com algumas folhas que vão absorver a umidade (eu uso papel jornal porque tenho guardado um pacote grande há um tempo e tem funcionado bem). Coloque peso em cima e deixe descansando de um dia pro outro. Pronto!
Desenhos de observação que fiz de uma crisálida de borboleta que estou hospedando aqui em casa, desde quando era uma lagarta. No 12º dia ocorreram várias mudanças e corri para registrar. Desde então, as transformações estagnaram e a borboleta ainda não saiu. Espero que ela esteja bem lá dentro…
Há alguns anos troquei a aquarela tradicional pela aquarela líquida. As cores são mais vibrantes que as da aquarela tradicional e a maneira como ela seca parece algo entre a aquarela tradicional e o gouache, o que é exatamente tudo o que eu sempre quis. Mas a rapidez com que ela seca pode ser um complicador para a técnica de muita gente – como eu, que insisto em gostar da combinação da aquarela com papel Bristol.
Mas confie na experimentação e a gambiarra vos libertará. Acabei descobrindo, entre um teste aqui e outro ali, um truque que resolve esse problema e ainda cria outras possibilidades: basta adicionar gotas de goma arábica à aquarela líquida. Isso vai fazer com a tinta deslize suavemente pela superfície do papel, independente do quão diluída ou não, de forma homogênea sem aquelas marcas nas áreas que secam antes que você cubra tudo o que quer. Isso não afeta a cor, não interfere no uso de máscaras e permite perfeitamente a mistura entre as camadas. A quantidade de goma arábica a ser adicionada vai depender do que você quer, é fácil criar essa noção após fazer algumas poucas experiências. Pode variar de uma gotinha pra uma grande quantidade de tinta (com água ou não) até mesmo uma proporção de mais da metade de goma, o que vai dar um toque aveludado à mistura.
Também é possível converter a aquarela líquida em sólida. Para isso, adicione de 2 a 4 partes de goma arábica para 5 de aquarela pura num recipiente pequeno (como uma pastilha vazia), misture bem (você pode usar um palitinho) e deixe secar no sol. Você vai poder carregar essa tinta solidificada numa latinha ou estojo e usar acrescentando água, como as tradicionais aquarelas compradas em pastilha.
No dia 31 de março de 1964, um golpe militar no Brasil deu início a uma ditadura violenta, brutal, absurda, vergonhosa, inaceitável.
Nesse mês o Brasil bateu o recorde de óbitos em meio à pandemia que está sendo ignorada pelas autoridades responsáveis de forma violenta, brutal, absurda, vergonhosa, inaceitável.
Esse é o penúltimo ano de um governo que segue, em todas as áreas que alcança, violento, brutal, absurdo, vergonhoso, inaceitável.
Em comum a tudo isso: mãos militares nos arrastando desespero adentro e nossa história que avança sem sinal de justiça.
Eeeeeeeita… e quase na metade do mês me dei conta de que é março, e março tem March of Robots, oras! Ano passado foi divertidíssimo. Esse ano ainda vou precisar correr atrás do prejuízo e produzir praticamente em dobro pra conseguir completar o desafio. Triunfarei?
Fiquei sabendo que a Karol Conká é a inimiga número 1 do Brasil! Caramba. Combatam esse mal, gente. Porque se a pessoa é assim, homofóbica, classista, racista, misógina, agressiva, arrogante e age assim por anos, usa dinheiro público como se fosse dela, faz hora com a cara de um país inteiro no meio de uma pandemia horrorosa e deixa milhões de pessoas morrerem e ainda vem debochar disso, olha… essa pessoa não vai parar. Que absurdo a Karol Conká falar que a administração dela não tem dinheiro pra testes e depois acharem um monte de testes vencendo, sem aplicação. Como Karol Conká usa nossos impostos, afinal? Não podemos admitir que Karol Conká faça tanto corpo mole pra providenciar vacinas a ponto de deixar o país na mão. Não podemos deixar que Karol Conká permita que queimem a Amazônia e sufoque o país numa nuvem de destruição, que aprove uns 500 agrotóxicos, que trate cargos de poder como seu clubinho particular, que distorça nossas instituições pra proteger sua família desonesta, que aja como se não nos devesse satisfação. Francamente! Precisamos colocar limites, senão Karol Conká faz como fez e gasta bilhões do nosso dinheiro alegadamente em leite condensado e se questionarmos, ela ainda manda enfiarmos as latas no cu. Que desaforo! E depois de tanto tempo assistindo a esse comportamento inaceitável, é capaz de deixarmos pra lá e voltarmos a força da nossa revolta pra algo infinitamente menos ameaçador. Porque quando a gente se acostuma com gente assim e ainda dá poder e espaço, essa gente não para. Depois não vem dizer que eu não avisei… ah-aaã… só não vem dizer que não… ah-aaã… só não vem dizer…
Que o poder da esferográfica multi-cor chinesa e a luz da edição digital de Pen & Ink Drawing: A Simple Guide me guiem pela jornada ao longo de um mês de superação técnica e exercício criativo. Que a disciplina não me abandone.
Primeiramente, o contexto para quem não o conhece (são mais de 12 anos e ainda não sei quem lê esse blog). Inktober é um desafio anual em que pessoas postam um desenho por dia no mês de Outubro. Existe uma lista de um tema para cada dia que varia de ano pra ano, mas não é obrigatório segui-la. O único requisito para participar do Inktober é realmente fazer um desenho por dia usando tinta (embora há quem participe com arte digital) e postar onde preferir. Pra artistas do mundo inteiro, é um período de diversão, troca e descontração. Sem disputa, sem prêmios, só pelo gostinho. Esse ano – porque afinal isso aqui é 2020 – o mundo-bolha das pessoas que desenham pela internet está abalado porque Jake Parker, criador do Inktober, lançou um livro da sua tentativa de marca Inktober® juntamente com outros produtos e foi acusado pelo artista e mestre das melhores aulas de desenho no youtube, Alphonso Dunn, de plagiar seu livro de técnicas de desenho com tinta, o Pen & Ink Drawing: A Simple Guide. Há quem pondere se houve plágio, há quem relativize o tamanho do plágio e conicidentemente tenha seus próprios produtos sendo lançados no pacote do Inktober®, há quem tenha retirado o livro de Parker de seu site de vendas, há quem queira boicotar o Inktober e, bem, outubro já está logo ali.
Dito tudo isso, aqui vão minhas considerações que ninguém pediu:
1. Sim, acho que Jake Parker plagiou Alphonso Dunn. Não estamos apenas falando de ensinar técnicas semelhantes com determinado material, o que inevitavelmente acontece. São os mesmos temas, mesmas técnicas apresentadas com a mesma metodologia inclusive na mesma ordem. Ah tá, ele mudou o nome dos títulos pra versões mais resumidas. É, pois é. Se ele houvesse dado os créditos, poderia até ser referência. Não deu. É plágio.
2. Sim, vou participar do Inktober esse ano porque Parker não é o dono do Inktober. Esse desafio é das pessoas, é da internet enquanto comunidade. Para boicotar Parker, basta não comprar o livro e produtos do Inktober®. Compre o livro do Alphonso Dunn, evolua sua técnica com dicas preciosas direto da fonte e apoie um artista negro maravilhosamente talentoso que além de tudo tem uma didática incrível.
3. Em homenagem a Alphonso Dunn, a quem eu homenagearia ainda que não houvesse essa treta porque devo a ele muito do que aprendi nos últimos anos, farei o inktober desse ano todo com caneta esferográfica. E pra dar meu toque zoeiro pessoal, usarei apenas essa caneta multi-cor chinesa com ares de clássico trash dos anos 80:
E por falar na Sofá de depois de amanhã… houve uma ocasião em que, por sugestão de um amigo que nos lembrou dos clássicos de capas de coletânea dos anos 90, eu orgulhosamente realizei a proeza de colocar um biquini num sofá.
O CD com as 7 melhores + 7 lado B da festa ainda está à venda por um preço simbólico.
E eis que marcaram uma WANNABE no dia 28/6, o que obviamente pede aquele sorrisão maravilhoso da Marsha P. Johnson pra nos lembrar que tudo começou e começará com luta.
Estávamos sem ânimo mas essa semana bateu a energia das manifestações anti-bozo e em defesa das vidas negras, a prisão da Sara Winter e do Queiroz, a reação que finalmente cresce… aí até deu vontade de dançar pra ajudar a recarregar. Então é isso, hoje tem festa Sofá.
Mais de 2 meses depois do início da minha clausura em casa, precisei sair de verdade pela primeira vez para levar nossa gatinha recém-adotada para castrar. Pensei que o passeio, embora rápido e objetivo, arejaria minha mente já tão embotada de paredes e telas eletrônicas, mas todo o chão que percorro me coloca no epicentro do medo do invisível – o vírus, a indiferença e crueldade, o fascismo galopante, o poder que mata.
Nesse domingo acontecerá a segunda edição da WANNABE na quarentena com a nova tecnologia do Zoom, que permite que nos sintamos dividindo uma pista de dança apesar de cada um no seu quadrado.
A Apis mellifera capensis é uma abelha da África do Sul que tem o superpoder de se reproduzir sem fecundação, tornando possível que criem populações inteiras só de fêmeas. Recentemente, cientistas descobriram que seu gene 11 é o responsável por essa capacidade – que por incrível que pareça não é tão incomum na natureza, embora em outras espécies que fazem o mesmo o gene responsável seria outro.
Finalmente pintei algo inspirado nessa cena do videoclipe de “Everything now” do Arcade Fire, algo que eu tinha vontade de fazer desde que foi lançado em 2017.
Em setembro do ano passado, fui com minha família e amigues num duelo de vogue. Vibrei e estalei os dedos para dezenas de voguers explodindo performatividades em performances por sei lá quantas mil categorias até que por meados da noite duas competidoras se estranharam no palco. Era a categoria “femme figure”, dedicada a mulheres cis e trans conforme me explicou uma amiga especialista no assunto. O quase arranca-rabo disfarçado de quase dança foi interrompido pelo juri gringo, convidado especialissimamente pra nos trazer seu conhecimento de causa, pelo bem da segurança… dos tradicionais papéis de gênero. Pois eis que a justificativa dada pelo senhor gringo é que se as moças quisessem, podiam catfight, podiam ser delicadas, suaves, graciosas para brigar mas que a agressividade pertencia a outras categorias que davam espaço para uma certa masculinidade. Eu e minha gangue ao redor franzimos os narizes imediatamente. Passamos o resto da noite do lado de fora problematizando e compartilhando nosso estranhamento.
Quando a ball chegou ao fim, me esgueirei para o bastidores e lá encontrei o Exmo. Senhor Jurado Gringo. Arranhei um “can I talk to you?” e aguardei pacientemente que ele terminasse de fazer o social. Quando ele pode vir para o canto me dar atenção, expressei com a melhor pronuncia que consegui a minha intenção de trocar idéias sobre a construção daquela festa, parte de uma cultura maravilhosa que nós criamos juntes etc. E questionei se nós, pessoas que vivem para além das regras de gênero e sexualidade, deveríamos mesmo nos prender às amarras que nos oprimem. O Sr. começou a resposta com “Esse é o problema com um mundo hoje!”, numa réplica perfeita de conservador indignado. E segundo ele, cultura de balls não é cultura LGBT e que eu não podia ir falar com uma lenda – ele gesticulou apontando de cima a baixo de seu corpitcho de dançarino para ressaltar “a legend” – e dizer que temos que mudar tradições. What? Por que não se tradições são construções e mudam o tempo todo ao longo da história? E segundo ele, não, não mudam. E trocamos alguns “they do” e “they don’t” num debate improdutivo até que ele disse que não era com ele que eu deveria debater já que a tal categoria não era “dele” e ele só tinha sido porta-voz do recado que a outra jurada gringa, representante da categoria, queria dar. E que eu estava perturbando-o num momento que deveria ser descontração pós-festa. Pedi desculpas sarcásticas à Lenda, pois sofro desse mal. A conversa com ela foi bem mais tranquila, mas concordamos em discordar.
Gênero e tradições são construções e quem os constrói? As pessoas. Para quem? Se não for para as próprias pessoas, qual o sentido? E podemos até brincar de separar cultura de ball de cultura LGBT, mas oras quem é que cria, mantém e vive a cultura de balls? Aliás, várias balls já pensam suas categorias e regras de forma muito mais ousada. Ignorar o potencial questionador da cultura das balls não só não faz sentido em relação ao seu público, como é simplesmente inútil. A comunidade LGBT se tranforma, as regras se transformam, as culturas se tranformam como se transformaram o drag, as balls, o vogue, nossa sigla, a sagrada instituição do casamento, as leis contra “sodomia”, o gênero. Pena que o Sr. Gringo não queira celebrar o quanto somos bons nisso nem reconhecer o quanto precisamos, mas whatever. Segue o baile!
Tardigradas são animaizinhos que medem por volta 0,5mm, vivem na água, podem hibernar congeladas por 30 anos, sobreviver no vácuo no espaço, resistir a radiação, suportar -200ºC e 151 ºC. É sério!
O novo álbum maravilhoso da Fiona Apple saiu depois de 8 anos de espera sem espaço para decepções. Vou arriscar uma tradução aqui porque acho importante que se fale sobre certas coisas. Músicas sobre depressão escritas por quem sabe do que fala falam diretamente com quem sabe do que estão falando. Se é que você me entende.
Balão pesadoPessoas como nós, nós brincamos com um balão pesadoNós o mantemos no alto pra manter o mal afastado, mas ele sempre cai muito rápidoEu me espalho como os morangosEu escalo como as ervilhas e feijõesEu estou sugando há tanto tempoQue estou arrebentando as costurasNo meio do dia, é como o solMas aquele do Saara, me encarando lá embaixoForçando todas as formas de vida em mim a se recolherem no subsoloCresce sem piedade como o dente de um ratoSimplesmente continua me roendoE se contrai como uma jiboia em uma mangueira, nada fluiEntão a pressão cresce ao invés da sementePessoas como nós ficam tão pesadas e tão perdidas às vezesTão perdidas e pesadas que o fundo é o único lugar que conseguimos encontrarVocê é arrastada pra baixo, pra baixo para o mesmo lugar tantas vezes seguidasO fundo começa a parecer o único lugar seguro que você conheceMas quer saber?Eu me espalho como os morangosEu escalo como as ervilhas e feijõesEu estou sugando há tanto tempoQue estou arrebentando as costuras
Heavy balloonPeople like us, we play with a heavy balloonWe keep it up to keep the devil at bay, but it always falls way too soonPeople like us, we play with a heavy balloonWe keep it up to keep the devil at bay, but it always falls way too soonPeople like us, we play with a heavy balloonWe keep it up to keep the devil at bay, but it always falls way too soonI spread like strawberries (I spread like strawberries)I climb like peas and beans (I climb like peas and beans)I’ve been sucking it in so longThat I’m busting at the seamsI spread like strawberries (I spread like strawberries)I climb like peas and beans (I climb like peas and beans)I’ve been sucking it in so longThat I’m busting at the seamsIn the middle of the day, it’s like the sunBut the Saharan one, it’s staring me downForcing all forms of life inside of me to retreat undergroundIt grows relentless like the teeth of a ratIt’s just got to keep on gnawing at meAnd it constricts like a boa on a hose, nothing flowsSo the pressure grows instead of the seedPeople like us get so heavy and so lost sometimesSo lost and so heavy that the bottom is the only place we can findYou get dragged down, down to the same spot enough times in a rowThe bottom begins to feel like the only safe place that you knowBut you know what?I spread like strawberries (I spread like strawberries)I climb like peas and beans (I climb like peas and beans)I’ve been sucking it in so longThat I’m busting at the seamsI spread like strawberries (I spread like strawberries)I climb like peas and beans (I climb like peas and beans)I’ve been sucking it in so longThat I’m busting at the seams(I spread like strawberries), I spread like strawberriesI climb like (I climb like peas and beans)I spread like strawberriesI climb like peas and beansI spread like strawberriesI climb like peas and beans (That I’m busting at the seams)I spread like strawberriesI climb like peas and beans
Enquanto eu pintava robôs no último mês, uma fenda que se abria no espaço-tempo acabou de rachar a lógica e nossas fantasias de futuro distópico se materializaram ao completar sua fusão com as noções de uma era medieval que já voltava a galope nesse quadro sócio-político-cultural surrealista. E agora estamos aqui, uma civilização manipulada por bots confinada numa Terra plana vigiada por câmeras com uma praga letal nas ruas. É primeiro de abril e as coisas mais inacreditáveis são verdade.
“March of Robots” é um desafio anual em que pessoas que desenham no geral postam um desenho por dia no mês de março. Decidi que vou me dedicar a isso dessa vez porque 1) preciso de um foco para me ajudar com a recuperação do luto, 2) ter finalmente completado o Inktober ano passado me deu ânimo para esses desafios, 3) amo desenhar robôs.
Confeccionei um sketchbook usando minhas escassas noções de encadernação. O miolo do caderninho foi feito com folhas cinza, pra me tirar da zona de conforto. Decidi também usar os mesmos materiais (quase sempre, ao menos).
Quem quiser participar do March of Robots, basta postar um desenho por dia usando as hashtags #marchofrobots e #marchofrobots2020 nas redes que preferir. Vou traduzir a listinha de sugestões de temas, que eu também decidi seguir, mas essa parte é totalmente opcional. O importante é se divertir!
Na madrugada do último dia 18 nosso amigo e anfitrião das visitas, Belzebu, nos deixou depois de uma batalha épica contra a FELV. Belzinho ganhou esse nome quando apareceu com seu berro gutural numa noite em frente ao prédio onde moram nossos amigos Amanda e Mário. Atendendo prontamente ao chamado de Amanda, sua primeira mãe, recebeu carinho e foi tratado de sua desidratação, desnutrição, pulgas e da patinha e testículo necrosado, resultado de um atropelamento que sabe-se lá quando aconteceu. Frequentemente me perguntava – e provavelmente vou sempre me perguntar – qual é a história que ele carregou até esse momento, que a barreira linguística interespécies jamais nos permitiu descobrir. Como aconteceu o atropelamento e quanto ele vagou com uma patinha calcificando o osso torto? Quem ele chamava na janela, à noite, nos primeiros meses aqui em casa? Como aprendeu a roubar pão das mãos humanas, como fazia durante nossos lanches? Quando descobriu que dar carinho é a melhor forma de viver e sobreviver?
Na noite em que buscamos Belzebu na casa da Amanda, passamos antes de chegar em casa em uma clínica veterinária para fazer testes, que deram positivo para FELV. Choramos pela primeira vez por ele, que tinha acabado de conquistar nosso colo. Me lembro que a jovem veterinária nos perguntou “Vocês ainda vão ficar com ele?” Claro que iríamos, não era possível, para nós, nenhuma outra resposta. E naquele momento uma promessa de lealdade foi feita, sem nenhuma necessidade de miado ou português. Como é o caso de tantas outras doenças que acometem qualquer espécie, inclusive quando é a nossa, a FELV é encarada frequentemente com muito preconceito e desinformação. É uma doença comum transmitida entre gatos através da saliva, que pode se manifestar depois de alguns anos suprimindo o sistema imunológico e causando linfomas. Tem vacina, mas é rápida, fatal e não tem cura. Além do privilégio de conseguir arcar com as quimioterapias e medicações, tivemos a sorte imensa ter ao nosso lado a Dra. Lígia Frossard, indicação da querida Cláudia, que trouxe a possibilidade de um tratamento, ainda em fase experimental. Belzebu atravessou com doçura inabalável todas as fases da luta. Os poucos meses de sobrevida previstos se transformaram em quase dois anos de muito cuidado e renderam uma nova esperança de vida melhor para tantos outros gatinhos. Ele não sabia dessa parte, mas de alguma forma tinha a nítida noção de que tudo aquilo, agulhas, sonda, comprimidos, era um grande ato de afeto profundo. Mais do que uma sagaz médica de felinos, Ligia foi a quarta mãe de Belzebu. Foi mais uma imensa benção do acaso que nossa guia por essa jornada compartilhasse tanto amor, transformando um tratamento em algo, na falta de uma palavra melhor, infinitamente mais humano.
Ao todo, ele esteve na nossa casa por 4 anos. Achei que escreveria mais sobre FELV mas não consigo me delongar sobre isso quando o que mais se pode falar sobre Belzebu é como era linda e poderosa a presença de um serzinho zoeiro com pouco mais de 4 quilos que literalmente estalava de amor incondicional.
Belzebu – Belzinho, Belzi, Belzeba, Bebel, The Cat Who Say Mi, Mimito, Nosso Pequeno Milagre da Ciência, Príncipe, Menino – deixa dois outros gatos que ainda o procuram pela casa, quatro mães, uma equipe de laboratório que vibrava por ele sempre que chegava um novo pedido de exame, veterinárias e alunos de Veterinária que acompanharam sua história em tom de torcida, gateiras e seguidores que trocavam afeto legítimo à distância, vizinhos que visitavam regularmente sua janela preferida, incontáveis pessoas convertidas em seus amigos imediatamente após o primeiro contato, amigos que repensaram sua relutância por felinos diante da prontidão e pureza de seu carinho, deixa também em todo os nossos corações a lição na prática de que se abrir para a troca do que é bom rompe barreiras, eleva a vida e faz da finitude um detalhe. Já diziam o versos que se repetem em algumas músicas jocosas em francês, “a morte é a morte, mas o amor é o amor.”
Fazendo uma faxina na papelada velha, encontrei essa anotação de 2017 feita num caderno onde eu costumava escrever algumas reflexões aleatórias:
“O movimento queer brasileiro é de fato uma repetição do estrangeiro colonizador, como dizem seus críticos, ou são justamente aqueles que se propõem a interpretá-lo sob uma perspectiva acadêmica que pecam ao analizá-lo sob uma ótica limitada, pré-concebida e importada? A questão aqui é o objeto ou sua pretensa teoria? Muito se escreve sobre a necessidade de uma teoria própria, mas quanto (e com qual qualidade) dessa teoria se produz efetivamente? A prática, por suas exigências no dia-a-dia, já se encontra avançada em sua adaptação e originalidade. Da teoria, é necessário um esforço deliberado para que esta alcance uma visão mais realista dessa prática.”
Hoje vou puxar uma roda de conversa sobre identidades não-binárias dentro do movimento trans no Encontrão Trans, na Casa Rosa de Marte!
A programação da semana da visibilidade trans segue amanhã com a nossa 4ª Caminhada.
E tem muito mais:
25 de janeiro
* Encontrão Trans
Descrição: Encontro para trocar experiências, contar histórias, ouvir música, fazer um lanche, dançar, rir, se divertir, fazer selfies, dar close de bonde. Com direito a lage e banho de mangueira. Vamos ter um momento para falar sobre identidade não bináries.
Horário: 14h às 19h
Local: Casa Rosa de Marte – Rua Paulino Marques Gontijo, 432, São Lucas.
Entrada Gratuita
* Bazar Itinerante
Descrição: Doação de Peças para pessoas trans e venda de peças por um preço simbólico para pessoas cis. Arrecadação de itens de higiene pessoal para Bicas durante o bazar.
Horário: 14h às 19h
Local: Casa Rosa de Marte – Rua Paulino Marques Gontijo, 432, São Lucas.
Entrada Gratuita
* Festa: Se Toca, Lindoka – Galla on Fire + As Talavistas
Descrição: Fextynha pra debochar forte, jogar a raba e celebrar nossas vidas. Galla on Fire e As Talavistas jogam pesado com uma line trans e convidam a todes para somar nessa construção. Djs, performances e projeções visuais. Vem debochar com a gente.
Horário: 22h
Local: Gruta! Rua Pitangui, 3613, Horto.
26 de janeiro
* Caminhada Pelas Vidas Trans e Travestis
Descrição: Caminhada em celebração e memória pela vida de pessoas trans e travestis. Concentração na Praça Sete de Setembro, no Centro de Belo Horizonte, com encerramento na Rua Aarão Reis.
Horário: 15h às 19h
Local: Praça Sete de Setembro, Centro.
* Cultural (encerramento da Caminhada)
Descrição: Cultural com artistas trans e travestis. Performances, música e festa.
Horário: 19h
Local: Teatro Espanca! Rua Aarão Reis, 542, Centro.
27 de janeiro
* Prosa e Café com Amor – Mães Pela Diversidade
Descrição: Convidamos a todes es filhes e mães para essa prosa gostosa com Sissy Kelly, Cristal e Renê cheia de amor de mãe.
Horário: 19h
Local: Centro de Referência da Juventude ( Auditório) – Rua Guaicurus, 50, Centro.
Entrada Gratuita
* Bazar Itinerante
Descrição: Doação de Peças para pessoas trans e venda de peças por um preço simbólico para pessoas cis. Arrecadação de itens de higiene pessoal para Bicas durante o bazar.
Horário: 19h
Local: Centro de Referência da Juventude ( Auditório) – Rua Guaicurus, 50, Centro.
Entrada Gratuita
28 de janeiro
* Malettrans
Descrição: Uma parceria entre o Nesganega Africando e Olympia Coop Bar, dois bares geridos por pessoas trans no edifício Maletta. Um evento com djs e um circuito interativo entre essas duas casas.
Horário: 19h às 23h
Local: Edifício Maletta – Rua da Bahia, 1148, Centro.
Entrada Gratuita
* Pedal da 3ª Semana da Visibilidade Trans e Travesti
Descrição: Pedal festivo pelas avenidas da região leste de Belo Horizonte. Saída da Praça Raul Soares (Concentração a partir de 19h30). No final do percurso, por volta de 22h, nos juntamos a todes no Malettrans. O pedal é leve, para iniciantes e em ritmo de passeio.
Horário: 20h
Local: Praça Raul Soares
Gratuito
29 de janeiro
* Plantão do Transpasse
Descrição: Precisa de apoio jurídico? Espaço para ser ouvide? Venha!
Horário: 12h às 14h
Local: Divisão de Assistência Judiciária da Faculdade de Direito da UFMG. Rua dos Guajajaras, 300, Centro.Entrada Gratuita
* Festa de Emponderamento Trans – Ong Transvest
Descrição: Evento que levará performances e intervenções artísticas à população trans privada de liberdade.
Horário: 15h às 19h
Local: Penitenciária Professor Jason Soares Albergaria. Avenida C, 550, Primavera, São Joaquim de Bicas.
* Slam Atraque em 1 minuto – Academia Transliterária
Descrição: Slam de/com/para/pelas pessoas trans e travestis.
Horário: 19h
Local: Beco Nossa Senhora das Graças. Rua da Água, 40, Serra. Entrada Gratuita
Aproveitando o clima de “começando o ano no fim do mês” para postar com muito atraso o cartaz de divulgação da festa Sofá de reveillon e o processo do desenho. Cabe ressaltar que a festa em si foi incrível!
É conhecido o fenômeno que faz com que pessoas acabem acreditando nas próprias mentiras se mentem com suficiente frequência. Num desdobramento indigesto, o cinismo também tem convencido os próprios cínicos enquanto bate repetidamente em nossas cabeças em golpes vindos de cima.
Nessa semana então pudemos receber de nossos co-cidadãos, cá de baixo, que “Bolsonaro salvou os médicos cubanos, que voltaram pra Cuba libertos da escravidão”. E falam a sério. Está tudo virado a esse ponto. A sujeira revirada com o “bom dia” caído por cima do lodo do estranhamento mútuo misturado com o esforço diário de ser uma pessoa entre anti-pessoas que esqueceram que são pessoas.
Continuar levantando, rumando para o trabalho, brigando contra a noção do absurdo para conseguir desempenhar suas funções adequadamente, almoçando como se houvesse espaço para apetite, voltando pra casa querendo um conforto impossível e depois fingindo que é possível dormir.
Por mais que eu esperasse o desastre, o baque foi tamanho que nem postei aqui… esse foi o cartaz de divulgação de uma edição mais que especial da Sofá.
Nós vamos sobreviver sim e essa revolução é nossa, por isso seguimos dançando.
Cadê o resto do meu Inktober? Foi pro ralo junto com meu sono nessas últimas semanas pré e pós apocalipse. Mas continuarei aqui, para desespero desses fascistas e serumaninhos mal-resolvidos que não conseguem conceber uma idéia de mundo sem a opressão de boa parte dele. Mal sabem eles que estaremos sempre aqui. Estamos apenas começando, cambada!
Levem meu sono, seus merdas. Eu prometo pra vocês que não vou dormir.
Janelle recentemente saiu do armário e se assumiu pan. Em homenagem à sua queerzice que já emanava desde muito antes de seus últimos videoclipes ousadinhos, resolvi postar esses esboços que fiz no começo desse ano a partir das capas de sua trilogia cheia de ficção-científica lançada entre 2007 e 2013. Amo!
Arte criada para divulgação da Sofá, festa pra lá de aconchegante e empolgante que acontecerá daqui a dois sábados. A idéia desse projeto é ser quase uma festa em casa, daquelas de fazer o vizinho chato chamar a polícia por causa do barulho… mas é na boate, então não tem vizinho chato.
Spiraldex é um dos vários modelos de gráfico usados principalmente como como ferramenta de gestão de tempo. Uma busca rápida na internet vai te colocar à par do assunto, caso você não tenha familiaridade.
No modelo original, todas as áreas possuem a mesma (ou semelhante) grossura, o que não era tão interessante para mim. Diminuí o centro para poder preencher no dia seguinte algumas horas antes da marcação de meia-noite e redistribuí o espaço para engrossar as sessões de acordo com as horas onde preciso de mais espaço para detalhes. Uma pequena mudança no ângulo da espiral fez o ajuste. Encomendei um carimbo com o desenho que fiz, tem funcionado perfeitamente pra mim nos últimos meses. Caso também atenda às suas demandas (ou caso você ache que essa é uma boa base para você fazer seus próprios ajustes), fique à vontade para clicar na imagem e baixar o arquivo eps:
Eu já venho cantando essa pedra desde 2016 e agora sai no Le Monde e pessoas vem comentar surpresas que alguém escreveu um artigo ou fez um video falando que “talvez tenhamos indícios de corrermos o risco de talvez quem sabe não termos eleições esse ano”. Vamos cortar todas essas voltas no começo dessa afirmação, que bobagem. Pensem aqui comigo: quando foi, na história dessa nossa humanidade, que um grupo deu um golpe de Estado para uns dois anos depois simplesmente cansar de brincar de poder? Vai ser fácil e simples pra eles, como tem sido todos os avanços absurdos desse rolo compressor. E mais uma vez, as pessoas vão exclamar horrorizadas “Oh! Meu deus! Quem diria?!” diante da desgraça anunciada e vão correndo mudar seus twibbons. Depois vão levantar pra trabalhar.
Bom, aqui estou de novo. Meu blog estava parado nos últimos 5 anos. Nesse tempo, estive amadurecendo minha relação com a internet e minhas opiniões sobre as redes sociais até que cheguei num ponto de ruptura. Foi gradual. Comecei tentando controlar meu tempo gasto no facebook e logo senti a eficiência da armadilha que me puxava de volta. Só recuperei o controle do meu tempo depois de desinstalar o aplicativo do meu celular, o que fez com que um novo mundo se descortinasse… na verdade, era o mesmo mundo à minha volta que eu, assim como o resto dos mortais de olhos grudados no smartphone, havia aprendido a ignorar. Um pequeno fio – a necessidade de divulgar meu trabalho com tatuagens – me mantém ligade ao facebook e instagram, me impedindo de deletar de vez todas as contas que tenho. Será possível sobreviver com esse negócio hoje, sem as redes? Estou estudando a questão. Para todo o resto, posso dizer sem ressalvas, as redes sociais são completamente dispensáveis.
Grande parte das coisas que aprendemos a ver como um “mal necessário” são na verdade simplesmente um mal com um ótimo marketing. Não acho que entregar tudo o que grandes corporações precisam para capitalizar nossas demandas políticas e refinar as ferramentas de manipulação midiática e mercadológica é um preço justo a se pagar para ver fotos, rir de bobagens, ler notícias, se engajar, fazer amigos e brigar com estranhos. Eu faço todas essas coisas aqui, do lado de fora. Ainda posso ver as fotos da sua viagem, que tal me chamar para um café?
Mas minha briga não é com a internet. É inegável o potencial de uma rede onde podemos nos conectar e nos expressar. Sim, nos expressar. Uma das distorções que as redes sociais produzem é a sensação de que dar opinião “sobre tudo” é algo condenável. Ficamos entre as pessoas que se expressam e as que reclamam do incômodo dessa falta de etiqueta. Mas pessoas se expressando, por si só, não é um problema, você sabe (impressionante precisarmos falar disso). O que te incomoda é o excesso de absorção, são as horas que você passa olhando para a tela sem perceber, sem dormir, é seu cérebro cansado de processar centenas de informações fragmentadas a ponto de desaprender a focar. E é assim que se fica incomodado por alguém dar uma opinião. Deixo essa reflexão como um ponto de partida pra quem está em busca de um.
Em suma, eu ainda amo a internet, mas estou re-descobrindo-a. Trocar os aplicativos de organização pelo meu velho caderninho que funciona tão bem, deixar meu smartphone fora do quarto à noite para acordar ao som de um despertador… e agora aqui estou, ressuscitando o Blog. E assim segue a jornada para re-descobrir como compartilhar sem me vender. Aceito convites para café.
Fizemos uma “exposição interna” no corredor dos escritórios do MAP, só com desenhos dos funcionários (e algumas filhinhas visitantes) feitos em post-its e pedacinhos de papel. Foi crescendo aos poucos e durou um bom tempo, desde o ano passado. Semana passada, resolvemos renovar a brincadeira e limpar a perede, retirando toda aquela papelada pregada com fita crepe. Acabei juntando minhas “obras antigas” e me deparei com dois auto-retratos feitos em épocas diferentes, numa espécie de “antes e depois”. Segundo uma análise minuciosa, poderíamos dizer que… pareço estar mais feliz de cabelo preto. Como vocês podem ver, são obras complexas de uma profundidade arrebatadora.
Pense numa esquisitice sua. Uma coisa que você gosta ou um detalhe da sua personalidade que é considerada por quem te conhece e por você como uma pequena excentricidade única da sua pessoa.
Pensou?
Pois é. Tenha certeza de que existe um grupo bem numeroso em algum lugar do mundo que não só deu um nome pra isso como transformou isso numa espécie de subcultura. Aliás, deve existir uma dúzia de lojas online só pra pessoas como você.
Ou o Femen não sabe o que faz e as notícias que temos sobre suas práticas e bastidores são de fato fruto de uma impressionante falta de responsabilidade, compromisso, escrúpulos, preparo, consciência, direcionamento e seriedade… ou o Femen sabe o que faz e estamos diante de um inimigo tão esperto que talvez tenhamos que repensar nossas armas.
O que posso dizer, para os que querem respostas mais definidas, é que o Femen não me representa.
Não representa os grupos feministas atentos e conscientes.
Não representa as correntes feministas que procuram compreender o que defendem.
O Femen é, no mínimo e numa visão otimista, uma imensa patetice.
No dia 20/12/2012 recebi um convite, dizendo que precisavam de “um criador de conteúdo” em uma das página do Anonymiss, que se define como “uma página feita por Anonymous, especialmente criada para a luta contra o sexismo”.
Minha resposta:
Muito obrigada pelo convite, mas recusarei. Tenho algumas restrições quanto a algumas vertentes do anonymous. Além disso, apesar do feminismo às vezes aparentar ser algo uniforme, ele apresenta várias linhas e não me identifico com a abordagem escolhida no caso. A começar, por exemplo, pelo nome, que considero um tanto controverso. O feminismo hoje apresenta abordagens mais amplas e inclusivas, englobando, por exemplo, as identidades queer, caso onde me encontro. Tais identidades e postura feminista de contestação relativas ao gênero são não apenas incompatíveis, mas de certa forma também oprimidas pelo termo “miss”. A escolha desse termo, que ironicamente tem origem num sistema de valoração patriarcal, demonstra ter pura e despreocupadamente sido feita simplesmente por se referir a “mulheres”, numa leitura cissexista da palavra. Eu e várias pessoas contempladas pelo feminismo atual não somos representadas por essa visão. Mas desejo sorte a vocês. Abs
Talvez, de tão traumatizados com a mídia emburrecedora, tenhamos entrado num estado defensivo que nos atrapalha a diferenciar o velho “seja um estúpido” de um saudável “não se leve tão a sério”.
Notícia um pouquinho atrasada, mas ainda válida porque fiquei muito feliz: duas pinturas minhas saíram na 3ª edição da Revista Prosa, do Studio V artes visuais, ao lado dos trabalhos da Marina Palmieri.
Amanhã, farei uma participação na Violently Happy Hour, projeto da Cris Foxcat pra quem quer bater o pé embaixo da mesa do bar. Meu set vai ser diferente das outras discotecagens que já fiz, uma proposta ainda mais atual e com espaço para alguns improvisos e gracinhas por conta própria. Decidi deixar de lado o tal “nome de dj” afinal, já basta uma identidade. Além do mais, DJ – com letras maiúsculas – é a Cris, cujo set, garanto, está impecável pra variar.
Me diverti arriscando fazer um cartaz mais colorido que de costume:
índices preocupantes de distúrbios alimentares, neurose generalizada com a alimentação, preconceito com gordos, rígidos parâmetros estéticos opressivos e irreais, celebração da magreza como ideal de felicidade…
… esteja tão em voga postar na internet fotos de comida.
Como eu gostaria de ver uma bela análise psico-sociológica sobre esse fato.
Eis que, um dia, de repente, me convidam para participar com o Me dá um espresso de uma seleção, feita pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, para participar da divulgação virtual da Rio+20. E eis que “passo”.
Eu, me preparando para justificar minha proposta do design de um caderno de atividades a ser utilizado pela equipe do Educativo da Casa do Baile, na exposição Fotógrafo Lambe-lambe: retratos do ofício em Belo Horizonte.
Festa nova, com uma proposta visual totalmente diferente. A idéia já estava pronta e me passaram o desafio de bolar alguma coisa bem tosca, que mantivesse o lado divertido do mau gosto. Nos últimos dias, andei circulando por aí com uma edição do 101 Cult Movies para me inspirar nos cartazes. Depois de algumas tentativas e erros, acho que estou chegando lá. Os primeiros cartazes saíram!
Essa segunda versão foi resultado de uma foto enviada pelo Rafa, a.k.a Dj Do Coqueiro:
A festa nem começou e já deu pra brincar bastante.
A vida não anda nada mal, apesar de corrida. Do final de 2011 pra cá, comecei a (finalmente, depois de anos de batalha) trabalhar no Museu de Arte da Pampulha. É um sonho realizado e um novo desafio em termos de gestão pessoal de tempo e, principalmente, cansaço. Estou me adaptando.
Confesso que ainda não sei como encaixar meus antigos projetos nesse novo ritmo, principalmente o podcast, que é o que mais tenho sentido falta. Não quero mudar os dias. Por isso, tudo o que posso dizer por enquanto é que planejo postar uma nova faixa na quarta-feira da próxima semana, dia 18. E Notas da semana… nesse Sábado…? Hm. Ok. Nada de preguiça. Mãos à obra!
Com o prefeito de Belo Horizonte ameaçando tirar os pipoqueiros das ruas, senti aquele misto de indignação com vontade de fazer alguma coisa. Comecei fazendo cartazes (favor, espalhar por aí).
De volta! Posso dizer que essa foi, até hoje, a que mais me deu prazer de fazer – embora ainda seja um mero rascunho de iniciante. Será que dá pra perceber que tem emoção aí?
O Podcast (link no rodapé de cada postagem) é onde publico minhas experimentações com sons/música. Saiba mais aqui.
Como podem notar, as Notas da semana voltaram. Já mencionei que estive estudando e acabei deixando as coisas de lado, mas já me organizei e, a partir de agora, tudo está de volta: Quarta-Feira tem podcast, Notas da semana aos Sábados e amanhã, Segunda-Feira – tambores! – a volta do Me da um espresso!
Estou preparando também algumas mudanças no site, que será atualizado e reorganizado.
Sei que ando sumida, mas estou estudando para seleção do Mestrado. Vou tentar conciliar melhor as coisas. Entre uma coisa e outra, me envolvi também com a organização da edição de BH da Marcha pelo Estado Laico, que vai acontecer dia 17/9 (esse Sábado!), com concentração às 14h na Praça Afonso Arinos. Depois, caminharemos em direção à Praça da Liberdade. O cartaz é de minha autoria:
Procurei esse livro para baixar e ler no meu pré-histórico palm top (que é incomparavelmente mais portátil que um ipad e me serve muito bem), mas achei versões cuja formatação não são favoráveis para serem convertidas em formatos de ebook. Encontrei então essa página no ebooksbrasil.org e o que fiz foi copiar, formatar rapidamente e salvar em um pdf compatível com outros formatos. Deu certo pra mim. Acredito que possa ser de utilidade para mais gente, portanto… segue abaixo o link para baixar o arquivo.
Criado através de circuit bend em um despertador que depois de desmontado e modificado foi adaptado dentro de uma caixinha de um relógio de pulso. Ambos os relógios (o da caixa e o despertador) foram presentes de Natal do meu avô. Por isso, e por ser o meu avô uma pessoa atenta à música escondida nas coisas, o aparelho recebeu esse nome. Uma homenagem justa.
O funcionamento do instrumento é simples: dois botões, um aciona um bipe e o outro o abafa sem anulá-lo. Uma chave para ligar e desligar. O som passa por uma saída stereo para qualquer caixa ou amplificador em que eu queira plugá-lo.
Simples e útil. Fiquei bem satisfeita para uma primeira experiência.
Pois é, essa semana não teve podcast, mas há um motivo pra isso: estive usando meu tempo para estudar e construir instrumentos eletrônicos que serão usados nos meus experimentos. Hoje mesmo finalizei um, postarei sobre ele em breve. Além disso, estou aguardando a chegada de uma encomenda que contribuirá para brincadeiras mais ousadas.
Semana que vem, o podcast volta à ativa normalmente. Quarta-feira!
Essa foi um ótimo exercício sobre o que acrescentar ou não. Mais noise, uma pequena provocação, menos informação e melodia. Tentei mantê-la enxuta o suficiente para não desviar a atenção das texturas. Acho que ainda vou descobrir se consegui.
O Podcast (link no rodapé de cada postagem) é onde publico minhas experimentações com sons/música. Saiba mais aqui.
A WANNABE está com um projeto novo que pediu uma identidade visual exclusiva. A Syrup surgiu da idéia de explorar o lado A da música com classe, uma festa para oferecer pop e nu-disco de uma forma que ouvidos mais exigentes não tem encontrado na noite de BH: sem farofa. Antes de definirem o nome, eu já havia “maquinado” uma estética de acordo com a proposta e deixado reservado. O nome foi praticamente um brinde.
Explicando a idéia…
Identidade visual da festa: Resumindo, é a estilização de um ponto de venda.
Logo: A logo sempre será inserida em algo que lembre uma placa de promoção de supermercado estilizada, um anúncio. Não precisa ser sempre a mesma forma, mas a fonte é sempre a mesma, algo constante para as pessoas memorizarem. A idéia é mostrar o nome da festa como um produto anunciado.
Estética em geral: Para brincar com a visão e dar uma sensação de histeria, todas as formas são angulosas, tanto a placa da logo quanto o cenário. Apesar de tentar representar um ambiente, não haverá nada realista que forme uma ilusão de perspectiva e profundidade exatas. Assim, mesmo dando a impressão de um ambiente, a imagem ficará aberta, leve, sem pressionar o espectador num canto. Tudo é artificial, inclusive as cores, que serão sempre bem fortes – mas apenas duas, afinal não é uma festa de “happy rock”. Uma cor forte preenche o fundo, com variações de texturas para tornar a composição forçadamente festiva e a outra cor destaca completamente a logo do fundo. O resultado é justamente o efeito do pop: chamar a atenção para si para se vender.
Álbuns de música Ceticencias – Hip-no-isys (2009)…………………………………. 7 Decompor – Sobre a máquina (2010)……………………………. 6 2:2 – Torto (2011)………………………………………………….. 8
Outros United States of Tara 1ª temporada (2010)……………………………………………….. 7 2ª temporada (2010)……………………………………………….. 8 3ª temporada FINAL (2011)……………………………………….. 9*
*O último capítulo foi responsável pela retirada de 1 ponto.
Semanalmente, publico aqui notas de 0 a 10 para tudo o que ouvi, li, assisti etc de novo (para mim) no decorrer dos últimos 7 dias.
Para ver as notas das semanas anteriores, clique aqui.
Essa semana, este blog recebeu uma visita misteriosa. Nos comentários da penúltima postagem do Podcast, foi deixado um link que me revelou duas pastas de arquivos curtos e bem produzidos, recheados de noise. Acho fantástico o ritmo em que a produção brasileira de música experimental anda. Contamos com uma gama bem variada de artistas bem-dispostos… alguns deles, surpreendentemente jovens. Uma geração que promete.
Deixo também aqui o link para dividir com vocês. Senhoras e Senhores, eu vos apresento
Camadas sintéticas, brincadeiras com equalização e um micro-barulhinho (uma nota só) apropriado de um jogo e totalmente modificado até ficar irreconhecível.
O Podcast (link no rodapé de cada postagem) é onde publico minhas experimentações com sons/música. Saiba mais aqui.
Para ajudar a divulgar meu trabalho com sons, fiz uma página de artista no Last FM e (a essa altura! Por que não?) no My Space. Tenho encontrado vários artistas noise nesses sites, quem sabe consigo também trocar figurinhas por lá?
Deixando de lado por um momento o 8bits e sons totalmente sintéticos, essa faixa foi desenvolvida a partir de uma única gravação de 2 segundos de som ambiente, que foi recortada, trabalhada e transformada em diferentes camadas.
O Podcast (link no rodapé de cada postagem) é onde publico minhas experimentações com sons/música. Saiba mais aqui.
Sim, depois de um tempo, resolvi voltar com as Notas da semana, que a partir de agora serão publicadas em um dia menos aleatório – Sábado, para fechar a semana. Deixemos as quartas para o podcast.
Livros As idéias absolutistas no socialismo – Rudolf Rocker (1981)…9,5 Anti anti-relativismo – Clifford Geertz (1984)……………………10
Álbuns de música Thao & Mirah – Thao Nguyen e Mirah (2011)…………………….9 Both ways open jaws – The Do (2011)……………………………9,5
Rascunho da arte para a Underground, marcada para o dia 24/6. Há um bom tempo não havia uma edição da festa… eu já estava com saudade de desenhar o elefante mascote.
nesse fim-de-semana, fiz meu mapeamento da controladora Behringer bcd 3000 para o Traktor Pro 2 (PC), de acordo com as minhas necessidades durante a discotecagem. Resolvi disponibilizar por aqui meu tsi (se alguém fizer alguma alteração, por favor, deixe um comentário e vamos trocar figurinhas!):
A maioria dos botões tem a função normal, com apenas algumas adaptações:
“Cue” A e B – carrega a faixa no deck A ou B (“set cue” funciona normalmente). “Bend” A – navega pelas pastas do browser (botão – para cima e botão + para baixo). “Bend” B – navega pelas faixas do browser (botão – para cima e botão + para baixo). “Reloop” A e B – aumenta o tamanho do loop. “Scratch” A e B – diminui o tamanho do loop. “Ext in A” e “Ext in B” – navega pelos grupos de efeitos (essa parte é cortesia do pack de tsi do djlogic.es).
PS.: Você que usa uma Hercules rmx com um mac e anda apanhando para mapeá-la para o Traktor também, sabia que tem um tsi prontinho e com instruções de configuração no próprio site do suporte técnico da Hercules? Incrível o quanto é preciso procurar para encontrar esse danado. Ei-lo.
Kid Vinil (aquele cara que cantava “Tic tic nervoso” nos anos 80 e agora escreve sobre música, tem uma imensa coleção invejável de discos e faz podcasts ótimos) está de banda nova. Haverá show de lançamento do álbum “time was” da Kid Vinil Xperience nA Obra e o cartaz é by me.
Quando eu disse que iria personalizar o facebook da WANNABE, me pediram algo “bem tipográfico”.
Adoro quando me dão oportunidade para brincar com as letras formando blocos de texto. Além disso, criei uma imagem que aproveitei para a imagem de exibição, tudo baseado na identidade visual do blog da WANNABE. Essa arte será utilizada também no twitter e o que mais vier – a intenção é que seja a cara da WANNABE na internet. A página do facebook terá também um espaço que será atualizado sempre com a arte da próxima festa.
Pois é, como esse blog é mais voltado para coisas pessoais, me dei conta de que um tumblr poderia ser uma ferramenta para compartilhar as artes, músicas e trabalhos que considero interessantes. Ele já está na lista de links do blog. Se quiserem dar uma olhada:
Indignada, entro na campanha contra essa vergonha que se intitula Deputado Jair Bolsonaro (eis alguns motivos). Como vi por aí muitas imagens de protesto para usar como avatar que acabam ficando difíceis de identificar quando diminuídas, resolvi fazer uma de fácil visualização para compartilhar com vocês:
Lembrando que o discurso contra a campanha anti-homofobia nas escolas do referido odioso foi material para o início da série “Discurso” do meu podcast experimental.
Inúmeras vezes, presenciei “artistas” (me permito o direito às aspas) se perderem ao esmiuçar todos os aspectos de seu traço ou proposta e, assim que percebem que seu trabalho transparece um pouco mais de si mesmos do que gostariam, fazem questão de frisar que não consideram sua obra como “arte gay”, “arte negra” ou qualquer “arte-minoria”. Já adianto que não venham me falar que “quem se define, se limita”, porque arte não é perfil de orkut. Quem se define, assume uma posição – o que, em grande parte dos casos, pode ser realmente louvável. Para refutar de vez esse clichê indigno de ser clichê, vou apelar para a mesma metafísica capenga (pleonasmo?): quem não se define, acaba por se admitir tão vago quanto essa frase.
Não é preciso refletir por muito tempo a respeito para se chegar à teoria de que essa recusa muito tem a ver com vergonha. É bem por aí. Salvo casos muito específicos e raros, essa negação vem acompanhada da velha justificativa “ah, não quero ficar militando, aborrecendo as pessoas com essa chatice”, ou a versão mais ingênua “não preciso ficar me afirmando só porque sou assim”. Espantoso não perceberem que assim admitem a origem de seu incômodo: lembrar que pertencem a tal grupo é algo que aborrece.
Diante de tanto “corpo fora”, vamos nos lembrar por um instante do papel transformador da arte. Ou de seu papel de mensageira dos anseios da humanidade. Ou do seu papel de expressão máxima e desavergonhada do quer que seja a tal alma. Não faltam atributos para demonstrar que a arte serve perfeitamente ao combate daquilo que faz com que esses “artistas” amarelem o sorriso e se justifiquem para o mundo. Isso quer dizer que todo artista é obrigado a escolher uma causa-guia? Não. É possível, por exemplo, fazer arte respeitavelmente abordando o homoerotismo sem necessariamente fazer arte gay. Isso não desmerece ninguém. O que desmerece é a covardia diante da essência do próprio trabalho.
A obra foge do nosso alcance. Isso ocorre justamente porque algo de nós fala através dela, e dificilmente podemos escolher o que será esse algo. Obras são como filhos. É inútil criá-las apenas com o objetivo de que realizem exatamente nossas vontades e planos. É preciso respeitá-la na sua individualidade. A obra será o que é. Provavelmente o seja por ter nascido assim, ou talvez seja por influência do meio, mas o fato é que o melhor a fazer (em nome da sua paz de espírito) é sair do seu estado de negação e aceitá-la como ela é.
Depois de um fim-de-semana com o layout bagunçado, está tudo de volta ao normal.
Para evitar que esse tipo de coisa se repita, experimentei algumas mudanças na hospedagem. Por isso, o blog saiu do ar de ontem pra hoje. Por fim, cá está o blog, tudo está em ordem e suas atividades seguem em frente.
Tive a honra de receber um convite para participar do mapeamento cultural LGBT que a ONG Somos está realizando nas capitais de todo o Brasil. Na última Terça-Feira (dia 15/2), estive no Palácio das Artes para uma conversa com os outros “mapeados”, alguns deles também artistas plásticos (Rodrigo Mogiz, Glauber Rodrigues e João Paulo Thiago) e outros dois autores de inciativas interessantíssimas na área da comunicação: o criador da publicação Fagia (Délio Faleiro Melo) e do livro Cidade dos Outros (Vinícius Luis). Os entrevistadores, Sandro e Mayra, registraram tudo em video – estou curiosa pra ver!
A produção apresentada pelos participantes fará parte de um catálogo a ser lançado até ano que vem. No meu caso, apresentei as séries Jacaré e as pinturas de nus. A conversa durou até tarde e foi uma boa oportunidade para o encontro e troca de impressões. Parabéns à Somos pela iniciativa.
Para conhecer melhor o trabalho dos outros artistas e do mapeamento cultural, dê uma olhada no blog: somos.org.br/mapeamento/
A título de “sinal de vida”, vou deixar aqui um pequeno registro dos acontecimentos recentes. A semana foi ótima, obrigada. Nesta Quinta-Feira, reestreei na discotecagem do Estúdio da Carne. A noite foi mais do que agradável. O set foi predominanemente mais eletrônico, como eu havia previsto, houveram alguns improvisos (Glory box) e alguns pedidos inesperados de última hora, que fugiram um pouco da proposta mas se provaram ótimos (L’amour a trois, Stereo Total!). Estou aguardando as fotos aparecerem para postá-las.
E hoje (Sábado), daqui a algumas horas, estarei no Velvet Club pra mais uma WANNABE, dessa vez em comemoração ao aniversário do Dj Buddy Holly (a metade masculina da WANNABE). Tive o privilégio de acompanhar a criação do set da Cris, e posso garantir que a noite vai ser ótima.
A criação do flyer pra essa edição da festa foi em clima de brincadeira. O Buddy me pediu algo que remetesse à idade avançada (exageros à parte) e achei que nada seria melhor do que a imagem de seu característico semi-topete grisalho. Um toque de pessoalidade, afinal, é um aniversário. As fontes escolhidas e a composição seguem a nova proposta visual da WANNABE pra esse ano. Decidimos que seria algo mais poluído, mais orgânico, mais rock. Estou me divertindo com esse novo desafio.
No mais, pelo andar das coisas, terei mais novidades em breve. Vejamos, vejamos…
O Podcast (link no rodapé de cada postagem) é o espaço onde publicarei minhas experimentações com sons/música. Saiba mais aqui.
“Ritmo-teste”, como o próprio nome indica, são exercícios simples de improviso e livre-associação que exploram os limites, construção e quebra de ritmo.
Aproveitando a deixa do ano novo, resolvi finalmente desengavetar antigas propostas e realizar um desejo antigo: explorar as possibilidades dos sons e da música experimental. Tenho alguns projetos definidos – cada um dará origem a uma série de faixas de som/música – mas preferi manter o foco inicialmente em apenas um. Com o tempo, darei sequencia a outros projetos que utilizam esse suporte.
Acabo de finalizar uma faixa.
A partir de hoje, no rodapé de cada postagem desse blog haverá um link para “PODCAST”, que direcionará para uma página à parte do blog. Nessa página se encontrará um player com a lista de faixas já postadas, uma breve descrição do projeto em andamento e um link para assinar o feed do podcast.
As postagens das faixas do Podcast serão identificadas através da imagem:
Pois é, tenho estado tão chocada com a falta de contato com a realidade de meus compatriotas às vésperas das eleições, que entre uma risada nervosa e outra acabei fazendo um “infográfico”.
Estejam à vontade para espalhar por aí.
Link direto para o gráfico em bom tamanho, clique aqui.
Pessoal, amanhã vou discotecar no Estúdio da Carne* (sob meu nome de guerra), à partir de 20:30.
Quem é de BH e conhece o Estúdio, sabe que lá tem drinks, ambiente e pratos supergostosos, e se vocês ainda não visitaram o lugar depois da reforma, eu recomendo – ficou lindo!
Então, se vocês estiverem afim de ouvir electrojazz, jazzices em geral – ou simplesmente me dar um oi – passem lá amanhã!
Álbuns de música – I blame Coco (2010) ……………………………. 7 – Blood Red Shoes (2010) ……………………………. 8
Textos, artigos e etc A teoria Queer e a Sociologia – Maíra …………………………. 9,5 A teoria Queer e a contestação da categoria “gênero” – Miguel Vale de Almeida (2004)…………………………. 7,5 Teoria Queer – uma política pós-identitária para a educação – Guacira Lopes Louro …………………………. 7,5
Semanalmente, publico aqui notas de 0 a 10 para tudo o que ouvi, li, assisti etc de novo (para mim) no decorrer dos 7 dias anteriores.
Para ver as notas das semanas anteriores, clique aqui.
Álbuns de música Mercy Street (single) – Fever Ray (2010) ……………………………. 6 Live in Lulea – Fever Ray (2009) ……………………………. 9,5
Textos, artigos e etc A teoria Queer e a Sociologia – Maíra …………………………. 9,5 A teoria Queer e a contestação da categoria “gênero” – Miguel Vale de Almeida (2004)…………………………. 7,5 Teoria Queer – uma política pós-identitária para a educação – Guacira Lopes Louro …………………………. 7,5
Álbuns de música S.T.R.E.E.T. D.A.D. – Out Hud (1996) ……………………………. 8 The Great Eastern – The Delgados (2000) ……………………. 10 False Priest – Of Montreal (2010) …………………………………. 8,5 Cloak and Cipher – Land Of Talk (2010) ……………………….. 7,5
Semanalmente, publico aqui notas de 0 a 10 para tudo o que ouvi, li, assisti etc de novo (para mim) no decorrer dos 7 dias anteriores.
Para ver as notas das semanas anteriores, clique aqui.
1.Vários blogueiros foram convidados pela fifa para um tal almoço à base de feijoada, onde foi anunciado que a autoria da tal aberração não seria de um estúdio francês, e sim da tupiniquim agência África.
2.A ADG (Associação dos Designers Gráficos) divulgou um manifesto expressando sua indignação com toda a capacidade técnica de verdadeiros profissionais da área.
Minha manifestação sobre esses fatos:
1.Se a verdade era tão simples, por que só depois de muito protesto é que foi anunciado o nome da agência criadora? Sei não. Para mim, isso cheira ao velho “abafa o caso”.
2.É bom saber que a ADG está viva.
No mais, estou aqui tentando não me entregar à “síndrome de cachorro vira-lata” tão típica de nós, brasileiros. Mas, francamente, está difícil viu…
Semanalmente, postarei aqui notas de 0 a 10 para tudo o que assisti, ouvi, li etc. no decorrer dos sete dias anteriores.
A princípio, filmes, álbuns de música e livros, mas reportagens, documentários, seriados ou até mesmo comidas e bebidas que merecerem menção serão listados.
As notas estão destacadas em roxo.
Como acabei de ter essa idéia, ainda não comecei com o hábito de tomar notas, por isso começarei com o que persistiu em minha memória e que considero “mencionável”, dos últimos dias:
Álbuns de música:
Personal Jesus – Nina Hangen (2010)…………………. 3 Withershins – Smoosh (2010)……………………………… 8,5
A logo da copa, não bastasse ser horrorosa, é um desrespeito aos talentos brasileiros do design: ela foi criada pelo estúdio francês Richard A. Buchel. E como se não bastasse ser um fruto feio da falta de noção, ela foi escolhida entre 7 opções por um júri de “notáveis” (muitas aspas nessa hora!), entre eles Paulo Coelho, Ivete Sangalo e Gisele Bündchen. Se não deram aos designers brasileiros a oportunidade de fazer a logo da copa do próprio país, que pelo menos considerassem seu conhecimento no assunto para escolher a logo. Comentando a formação do júri com meu pai, ele disparou “mas iam fazer o que? Voto popular?” Não. Podem me chamar de elitista, mas infelizmente o Brasil é um país de analfabetos visuais. É interessante que ontem mesmo eu estava conversando com uma ex-colega de faculdade sobre a importância de educar o olhar do público, que na sua maioria ainda está estacionado na Monalisa. No quesito “oportunidade para expandir a mente do público”, a logo também é um fracasso total. O conceito da logo em si é um clichê totalmente previsível. Mas até aí tudo bem, a maioria das logos de co pas anteriores também são. O que a salvaria seria a execução e o desenvolvimento da idéia, o que nesse caso foi feito de uma forma (não encontro outra palavra) tosca. Não por que é simples, eu mesma sou uma grande adepta do minimalismo, mas porque a solução mal colocada para separar os dedos das mãos, as letras mal desenhadas espremidas num canto, a escolha infeliz da disposições das cores (verde, amarelo… e vermelho???), enfim, o desenho no geral parece ser o primeiro rascunho de uma idéia não desenvolvida por preguiça. E para os que entendem do assunto: que vetorzinho vagabundo, eihn. Enfim, mais uma vez, Paulo Coelho deu sua pequena contribuição para envergonhar a imagem (literalmente) do país.
THINGS AND STUFF é o nome da série de cartoons trash que são publicados no blog thingsandstuff.bsdep.art. “Trash”, porque são feitos no Paint Brush.
Esse projeto surgiu da vontade de experimentar uma simplificação gráfica sem restrições. Desde o começo, tudo correu livre e em pouco tempo, o projeto já vem desenvolvendo sua estética própria.
Até o momento, THINGS AND STUFF está subdividido em 4 grupos:
Amateur study of reaction – série onde a busca por simplificação de imagem e roteiro atinge seu ponto mais minimalista.
Some sense – com roteiros que possuem alguma referência externa, geralmente relacionada com o mundo da música
Utilities – brincadeiras metalinguísticas com o universo virtual
Things and stuff – em cada cartoon, um tema da realidade humana é abordado,
Em quaisquer dos grupos, não há personagens fixos nem nenhuma referência à sua identidade (excetuando-se alguns casos do Some sense, que possui uma relação maior com a realidade objetiva).
O foco de todo o THINGS AND STUFF é o comportamento humano.
(outro pequeno fragmento do meu Trabalho de Conclusão de Curso, para a Escola de Belas Artes da UFMG)
Annateresa Fabris descreve uma comparação feita por Jameson entre O grito de Munch e os retratos executados por Andy Warhol:
O grito é “uma expressão ortodoxa da grande temática moderna da alienação, da anomia, da solidão, da desagregação e do isolamento sociais”, enquanto os personagens do artista norte-americano são uma afirmação do sujeito fragmentado, aniquilado mesmo, encarnando uma categoria que Jameson denomina “declínio do afeto”, da qual resulta aquele predomínio da superfície, tão típico do universo pós-moderno. [1]
As mulheres pintadas a têmpera ovo são o oposto do que Andy Warhol faz quando repete a serigrafia de Marilyn Monroe, anulando seu gesto e autoria. Por isso, fazer da fotografia uma ferramenta da pintura, no lugar de encará-la como produto final. Seria o meu trabalho, então, um retorno ao grito? Não. Embora bem diferentes das Marilyn Monroes, essas mulheres são produto da mesma fragmentação do indivíduo, elas são a “repetição” de várias outras. A despeito de qualquer reflexão que possam aparentar nada nos é dito sobre essas mulheres, sendo assim, ela não são nada mais que suas cascas, estão vazias. Mas não como as Marilyns de Warhol, que como ele mesmo explica:
(…) a arte pop despersonaliza, mas não torna ninguém anônimo: não há nada mais identificável do que Marilyn, a cadeira elétrica, um pneu ou um vestido, vistos pela arte pop; e, são apenas isso: imediata e perfeitamente identificáveis nos ensinam com sua presença que a identidade não é a pessoa: o mundo futuro corre o risco de ser um mundo de identidades (através da generalização mecânica dos fichários da polícia), mas não um mundo de pessoas. [2]
As mulheres de Bárbara, ao contrário, não são identificáveis, são pessoas, mas ainda sim fragmentadas. Não possuem o glamour, não são alvo de admiração. Ao desligar das TVs, quando o consumo e as celebridades se apagam com a tela, elas são o que resta.
Elas são aquilo que o espectador não quer viver, mas vive. Não são uma denúncia politicamente correta de uma dura realidade vivida pelos menos favorecidos ou por alguma minoria pela qual o senso comum cultua uma piedade anestésica: nelas, o observador encara sua própria miséria emocional, seu próprio vazio e anonimato.
A obra de Warhol nivela indivíduo e objeto de consumo. Ela é mais um reflexo do fenômeno do narcisismo apontado por Gilles Lipovetsky, que, segundo ele, teria sua origem no “desaparecimento do pai, devido à freqüência dos divórcios”, o que levaria a criança a ver na mãe a imagem de castradora do pai. A criança, então, alimenta o sonho de substituir o pai, “de ser o falo, ganhando celebridade ou se juntando aos que representam sucesso.”
Comparando as abordagens dos trabalhos, nos deparamos novamente com uma proposta oposta à de Warhol. Meu trabalho representa o outro lado, a realidade banal do rebanho, o dia-a-dia fora do sonho. Nada aqui é sacralizado pela arte ou glorificado.
[1] CHALUB, Samira. Pós-moderno &: semiótica, cultura, psicanálise, literatura, artes plásticas. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1994. p. 109.
[2] CHALUB, Samira. Pós-moderno &: semiótica, cultura, psicanálise, literatura, artes plásticas. Rio de Janeiro: Imago Ed., 1994. p. 109.
(série disponível para visualização no site, link no logotipo acima)
O processo
O trabalho vem sendo desenvolvido há aproximadamente 2 anos e, desde então, o que inicialmente seria uma série temática se transformou em uma busca artística e pessoal por linguagem, estilo e identidade visual.
A técnica se definiu logo no início, sendo a têmpera ovo a escolhida. Essa escolha se deu, a princípio, devido a dois de seus aspectos principais: o tempo de secagem – menor que o da tinta à óleo e maior que o da tinta acrílica – e a possibilidade de um controle, através de variações em de sua fórmula, de sua textura. A fórmula usada na têmpera de fato se modificou bastante durante todo o processo de pesquisa, principalmente a partir do momento em que houve uma necessidade de uma construção mais pictórica, valorizando massas.
A possibilidade de seu manuseio direto, permitindo dessa forma – devido ao seu baixo teor tóxico – que se pinte com as mãos, também foi um dos principais atrativos oferecidos pela têmpera ovo. Após alguns estudos e obras, quando se tornou possível uma análise mais conceitual da então série, ocorreu uma ligação nesse aspecto entre o material usado – o ovo – e os temas abordados na própria pintura.
A ligação entre o tema e o material foi além da tinta e, em determinado momento, também o suporte passou a integrar conceitualmente o conjunto que forma a obra-pintura. Papelão, jornal amassado e fita adesiva se tornaram, enquanto suporte, também elemento de expressividade, dialogando com os temas propostos enquanto desafiam o paradigma da atemporalidade da obra.
Mais tarde, o aspecto técnico do processo de criação novamente interfere imediatamente no tema, quando os suportes passam a ganhar dimensões cada vez maiores e, por fim, quando a fotografia digital passa a ser modelo para as pinturas, modificando-as em termos figurativos e cromáticos.
Embora todas essas mudanças tenham ocorrido o longo de 2 anos, nota-se uma unidade formada não só pelo tema do nu feminino, mas também por reflexões existenciais inerentes à imagem das mulheres inseridas nos ambientes e condições retratadas.
O suporte
Durante o processo, a tela foi rapidamente substituída por outros materiais. O primeiro foi o jornal, antes apenas uma folha, depois os suportes cresceram e as folhas de jornal passaram a ser emendadas, após muitos testes, com fita dupla-face. A descoberta desse suporte foi registrada no caderno de anotações pessoais, de onde foi retirado o trecho transcrito abaixo:
A primeira vantagem do jornal é que ele não me intimida. A tela é algo mais sério, custa algum (mesmo que pouco) dinheiro, sempre tomo mais cuidado com a tela não sei bem por que; então acabo não me soltando muito como faço com o jornal (se eu não gostar, é só embolar e jogar fora). Outra coisa é que a tela possui certa “dignidade” que não condiz com o clima dos meus temas, eu nunca exporia, por exemplo, uma das pinturas dessa série em uma moldura. Eu as imagino abandonadas, como muitas das personagens nelas retratadas, pregadas na parede quem sabe até com fita crepe. Por isso não me importo (e até gosto) com eventuais danos nas bordas da folha. Meus temas falam da solidão dos grandes centros urbanos, e o jornal também dialoga com isso. Ele é algo assim, do mundo, da cidade, me remete a paisagens urbanas de quadrinhos onde há sempre uma folha de jornal ao vento, se misturando à sujeira das ruas da cidade.
O “crescimento” dos suportes atinge o ponto atual quando grandes folhas de papelão, utilizadas para embalar guarda-roupas, são apropriadas, dando início a uma nova fase. Esses suportes são originalmente retangulares, mas após seu uso apresentam rasgos e irregularidades que são preservadas, visando a identificação do suporte por baixo da pintura: o papelão usado deve parecer papelão usado. Pelo mesmo motivo, irregularidades no jornal e pequenas áreas em que aparece a impressão do jornal não são disfarçadas.
Tanto no caso dos papelões quanto dos jornais, os cuidados com sua conservação, intencionalmente mínimos, são praticamente os mesmos: a parte de trás do suporte é reforçada com fita adesiva marrom (dessas utilizadas em mudanças). Dessa mesma forma, rasgos maiores também são emendados, mas não necessariamente disfarçados. Uma camada de tinta látex é aplicada, mas não em toda a superfície, que nunca é coberta totalmente pela pintura, preservando um aspecto de recorte de imagem dentro de um recorte de folha.
Os cenários
A prevalência quase absoluta de interiores é fruto de uma subjetividade que se encontra de forma marcante em todos os ambientes retratados. Mais do que refletir uma subjetividade da artista, o cenário é o elemento através do qual o espectador reconhece sua própria subjetividade. A familiaridade dos cômodos – quartos, banheiros, cozinhas ordinárias – o transportam para sua própria vida, vivida entre as paredes brancas de seu cotidiano. Através desse recurso, a pretensão é que a obra incite a auto-consciência.
A partir do momento em que a construção das imagens passou a ser baseada diretamente na fotografia digital, o cinza (que foi, durante algum tempo, a principal característica dos cenários) foi substituído por uma iluminação clara. Essa claridade artificial reforça a participação direta e ativa do ambiente: a luz age diretamente sobre o corpo, a sua artificialidade evidente traz a tona aspectos subjetivos já antes explorados nos temas (o urbano, o vazio, etc).
Nesse campo, o cinza perde por ser previsível. Qual a novidade em se relacionar o cinza com a cidade? A sutileza da luz artificial (sutil, porém marcante) é por si só a referência do ambiente fechado, da clausura. Ela é o código através do qual o espectador reconhece a realidade entre quatro paredes cotidiana em que vive. A claustrofobia mais uma vez se faz presente. A contemporaneidade do tema também é reconhecida através desses cenários e, mais uma vez, temos o espectador inserido, através da imagem, na consciência de sua situação: esse é mundo, seu tempo, sua vivência diária.
A cidade, embora quase nunca apareça, também é um personagem. No caso dos interiores, o próprio visual das mulheres denuncia que não se tratam de pessoas que vivem no campo e, em alguns casos, temos janelas, também tão atuantes quanto as mulheres. Nelas, essas figuras contemplam o mundo fora de seu cubículo, esse contraste, onde se identifica um horizonte que se expande do lado de fora, acentua a claustrofobia do ambiente interior. Tomamos consciência da “caixa” que abriga um alguém.
O nu
Nudez e intimidade, duas idéias já tão interligadas, são ainda mais reforçadas. As personagens são flagradas em atitudes cotidianas e sua naturalidade e deselegância denunciam sua solidão, pois a nudez despida de atrativos não é condenável quando não há observador. O espectador da pintura não interage diretamente com a figura, ele é um voyeur e, do lado de fora, assim como a figura, está só e isolado nessa relação.
Sem a consciência de estarem sendo observadas e despidas de suas identidades, pois não apresentam roupas nem rostos que as identifiquem, essas mulheres têm em seus corpos a expressão de sua vulnerabilidade. Não há máscaras ou papéis. Também em seus corpos reconhecemos sinais de nosso tempo: embora desnudas, ostentam tatuagens, cabelos tingidos, resquícios da “artificialidade” mundana. Suas atitudes também refletem o mundano, muitas das mulheres são retratadas fumando ou em momentos de total embriaguez, bebendo sozinhas em casa ou mesmo vomitando no banheiro.
As modelos são necessárias, pois elas fornecem detalhes e características de um indivíduo real, aspectos que uma figura inventada não possui. Esse toque de realidade é outro recurso utilizado para reforçar a identificação entre os espectador e a imagem. Ao se deparar com “uma pessoa de verdade”, o observador se vê.
A escolha das modelos, embora não tenha parâmetros definidos, segue certa tendência. Além de uma certa ligação pessoal entre a modelo e eu, os aspectos contemporâneos descritos acima são o alvo principal das reflexões propostas e, por isso, as modelos escolhidas têm com eles alguma relação. Mesmo que a obra não ofereça diretamente informações sobre as mesmas, espera-se que essas características se manifestem de alguma forma na imagem da pintura. A fotografia é importante no processo da pintura é um facilitador da relação artista-modelo, pela mera praticidade de não exigir muito tempo da modelo e me permitir trabalhar e elaborar sua imagem pelo tempo que sentir necessário.
Algumas ponderações mais pessoais se fazem necessárias: a escolha pelo nu, especificamente pelo nu feminino com certeza caberia dentro de análises psicanalíticas que não pretendo levantar. Minha intenção não é produzir uma arte auto-biográfica, nem tampouco (no caso dessa série de pinturas) militante. Embora eu também não alimente a ingenuidade de acreditar que traços da minha personalidade e preferências não se manifestam inconscientemente a cada escolha na minha produção. Meus nus não são sexuais na medida em que um corpo nu consegue não ser sexual.
Bom, só pra explicar bem. Periodicamente, vou postar aqui textos e imagens a respeito dos meus projetos (em andamento ou não).
Como vocês podem ler logo acima: “Livro de artista” virtual (por que é também um espaço para minhas anotações, idéias e rascunhos), propostas (para quem se interessar poder ter acesso a um escrito meu sobre algum trabalho) OU: notícias das últimas e próximas peripécias (disponibilizarei fotos, vídeos e registros de trabalhos realizados e anunciarei os próximos, quando for possível)